22 de janeiro de 2025 - 23:14

Jornalismo deveria aprender com produtores de conteúdo digitais, diz estudo

O ano de 2025 se anuncia como um dos mais hostis à liberdade de imprensa nos Estados Unidos. Semanas antes da posse, Donald Trump já começou a processar empresas de mídia e jornalistas por coberturas que o incomodam.

Ao mesmo tempo, a confiança no jornalismo está numa baixa histórica no país. Uma pesquisa do Instituto Gallup registrou em 2023 que quase três quartos dos americanos questionam a credibilidade da mídia tradicional.

Se há uma crise de confiança em instituições em geral, a erosão da reputação do jornalismo é também fruto de uma campanha coordenada da ultradireita, liderada por Trump e pelo bilionário Elon Musk.

Um novo estudo do Centro de Mídia Shorenstein, da Universidade Harvard, examinou o futuro da informação confiável. A análise se concentrou no conteúdo produzido por criadores online porque pesquisas preveem que seu público total será maior do que a audiência de TV nos EUA em 2025. Embora a rotina do jornalismo não possa se valer da informalidade e do baixo conteúdo informativo de criadores no YouTube, TikTok ou Instagram, os pesquisadores decidiram avaliar essa produção com base em três critérios necessários para manter a confiança no jornalismo: competência, benevolência e integridade.

A economia de criação de conteúdo vai atingir US$ 480 bilhões (R$ 3,05 trilhões) até 2027, prevê o banco de investimentos Goldman Sachs, enquanto a receita global de produção de jornalismo tradicional foi estimada em US$ 32 bilhões (R$ 203 bilhões) em 2022.

Um exemplo é a repórter britânica Amelia Dimoldenberg, que hoje comanda um público maior do que o dos três canais de jornalismo da TV a cabo americana. Ela começou um projeto de entrevistas, o Chicken Shop Date (encontro na lanchonete de frango), há dez anos, quando ainda estudava jornalismo. Seus vídeos conversando com celebridades já somaram 638 milhões de acessos.

Se criadores digitais emergem num ecossistema caótico e sem regras editoriais, precisando começar do zero para demonstrar competência, boas intenções e integridade, os jornalistas chegam ao público sob o guarda-chuva da reputação de empresas.

Por outro lado, pesquisas mostram que o público desconfia da informação que vem de conglomerados de proprietários bilionários —o oposto da benevolência—, enquanto os produtores individuais online são vistos mais como pequenos comerciantes de bairro.

O estudo de Harvard recomenda que o jornalismo tradicional observe exemplos dos criadores digitais na transparência do processo de apuração de notícias, além da comprovação de credenciais de jornalistas profissionais para cobrir, por exemplo, a emergência de uma pandemia.

A pesquisa argumenta que os padrões editoriais éticos, a competência e a motivação para servir ao público que se esperam da produção de jornalismo são um processo ainda opaco para a cética audiência contemporânea que quer ter mais voz e interação. E critica a chamada “performance de objetividade”, o esforço impossível de provar que o repórter é um ciborgue programado para não ter opinião que resulta numa visão de lugar nenhum.

A questão da integridade é o maior desafio para o jornalista. Num clima de crescente autoritarismo como o atual, o sucesso dos governantes depende de fazer o público duvidar de tudo, apagando a distinção entre fato e propaganda. O estudo recomenda que a produção de reportagens seja mais transparente, com menos especialistas e mais voltada para quem é diretamente afetado por eventos e decisões.


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noticia por : UOL

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