23 de janeiro de 2025 - 11:22

"Charlie Hebdo abraçou agenda da extrema direita, mas ninguém deve ser fuzilado por suas opiniões", diz chargista

O cartunista também critica o histórico editorial do Charlie Hebdo. “Não sou fã do trabalho deles. Um jornal que se pretende progressista abraçou um pensamento anti-imigrante e antimuçulmano. No momento em que ele resolveu não fazer uma crítica a respeito da manipulação da religião por parte de determinados líderes islâmicos, mas sim um ataque gratuito e covarde contra a fé islâmica, o Charlie Hebdo abraçou a agenda da extrema direita”, afirma Latuff.

“Isso evidentemente não significa que a resposta a essas charges e ofensas tenha sido justa, obviamente que não. Qualquer pessoa de bom senso não pode aprovar que chargistas, ou quem quer que seja, tenha que ser fuzilado por conta de opiniões. É de se lamentar e de se condenar”, acrescenta.

Para o chargista carioca, a sátira do jornal, em muitos casos, ultrapassou os limites do bom senso. “Se a intenção era simplesmente ofender, como fizeram ao retratar Maomé de maneira ofensiva, isso é infantil e irresponsável.”

“Dois pesos e duas medidas”

Na entrevista à RFI, Latuff considera que existem “dois pesos e duas medidas” e uma “hipocrisia da sociedade europeia” em relação à liberdade de expressão. “O Charlie Hebdo não tratou com tanta veemência ou com tanta virulência, por exemplo, a questão palestina e Israel. Quem quer que critique o genocídio que está acontecendo em Gaza hoje é tachado de antissemita, de pronto. Na Europa, naquela época (do ataque ao Charlie Hebdo) e hoje, é muito fácil atacar muçulmanos e imigrantes. É um golpe baixo e fácil”, diz.

Latuff comentou ainda porque não aderiu à campanha “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie”) lançada na França e que se expandiu por muitos países em solidariedade aos cartunistas e chargistas e em apoio ao jornal satírico após o atentado. “Dizer ‘Je suis Charlie’ significava dizer para mim na época que estava de acordo com a atitude do jornal de ter feito aquelas charges ofensivas contra Maomé e os muçulmanos. Eu lamentei e condenei o ataque. Mas é isso. Perderam a vida em nome da causa da extrema direita que até hoje é contra islâmicos, árabes e imigrantes, que é de se lamentar para um jornal que se propõe progressista”, reitera.

noticia por : UOL

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