4 de fevereiro de 2025 - 12:37

Riachão, mestre do samba, é celebrado em disco póstumo com dez canções inéditas

Quando se fala em música da Bahia, há uma lista óbvia que vem à cabeça: Dorival Caymmi, João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil… Mas quem tem afinidade com sons produzidos no Recôncavo não vai deixar de incluir Riachão, um mestre do samba. E o primeiro grande lançamento fonográfico 2025 vai ajudar para que ele seja conhecido por novas gerações.

“Onde Eu Cheguei, Está Chegado” é apenas o quinto disco em sua carreira. Seu lançamento, com convidados, pode parecer uma homenagem póstuma. Riachão morreu em 30 de março de 2020, aos 98 anos, quatro meses depois de o álbum ser selecionado no edital da Natura Musical.

Os produtores Paulinho Timor e Caê Rolfsen preservaram as dez canções inéditas programadas para entrar no disco, todas de autoria de Riachão. A única mudança em relação ao que o compositor desejava foi no título do disco. Não foi possível continuar com a ideia inicial: “Se Deus Quiser Eu Vou Chegar aos 100”. A opção final é originalmente um verso de sua música “Camisa Molhada”, gravada nos anos 1970.

Responsável pelo projeto, Joana Giron, da Giro Planejamento Cultural, lembra que Riachão voltou a compor depois de parar por alguns anos.

“Quando ele morreu, estava extremamente animado com o projeto, e o disco estava em processo de escolha de repertório. A readequação de tudo não foi simples, mas, quase cinco anos depois, acreditamos estar prestando a homenagem mais à altura de Riachão possível”, afirma.

Cantor de samba de roda desde criança, Riachão deixou mais de 500 canções, uma boa parte ainda aguardando quem possa gravá-las. Conhecer um pouco desse material não é difícil, já que ele teve seus sambas registrados nas vozes de nomes como Caetano, Gil, Beth Carvalho, Jackson do Pandeiro, Dona Ivone Lara, Zélia Duncan e até mesmo a roqueira Cássia Eller.

O produtor Paulinho Timor conta que eles tinham registros de Riachão cantando essas músicas, já visando a gravação do álbum. “A gente queria e felizmente conseguimos ter a voz imortal de Riachão, que é sempre o seu melhor intérprete”.

A escolha de convidados para duetos póstumos tem Criolo, Martinho da Vila, Josyara e Teresa Cristina, entre outros cantores e musicistas essenciais na construção de um samba baiano nas últimas décadas, como o guitarrista Roberto Barreto.

Clementino Rodrigues, o Riachão, teve canções gravadas desde a década de 1950. Desde cedo elas despertavam interesse até em quem não era do samba.

Naquela época, ele chegou a ser gravado pela dupla sertaneja Tonico e Tinoco, então idolatrada em todo o país. Compositor intuitivo, com pouca ou quase nenhuma afinidade com instrumentos, ele podia fazer sambas, marchas, maxixes e até mesmo boleros.

Riachão gravou quatro álbuns até “Mundão de Ouro”, em 2013, além de ter participado de um disco dividido com outros dois nomes baianos históricos, Batatinha e Panela. O álbum se chama “Samba da Bahia” e foi lançado em 1981. Seu maior sucesso, regravado dezenas de vezes, é “Cada Macaco no Seu Galho”.

Quem quiser procurar nas plataformas as faixas de “Onde Eu Cheguei, Está Chegado” vai encontrar parcerias que trazem performances de cantores lado a lado com a voz-guia que Riachão tinha deixado gravada.

O time tem, entre outros, Criolo (“Saudade”), Martinho da Vila (“Sonho do Mar”), Teresa Cristina (“Uma Vez na Janela”), Pedro Miranda (“Sua Vaidade Vai Ter Fim”) e até o neto do compositor, Taian, na faixa “Tintin”.

Entre elas, se destaca de imediato “Oh, Lua”, com Josyara fazendo voz e violão. Paulinho Timor comenta a faixa, um samba de roda com nova roupagem. “Uma cantora da nova safra baiana, Josyara, emprestando todo seu talento nos violões e a doçura de sua voz inconfundível. Traz mais uma vez as raízes do samba do Recôncavo Baiano, com a batucada da musicista Victória dos Santos nos atabaques. A força feminina fica bem representada.”

O lançamento do álbum acontece com a criação de um site, acolhendo um acervo de fotografias, reportagens, discos, fonogramas e documentos audiovisuais sobre a carreira do cantor. Lá também estão disponibilizados três minidocumentários dirigidos por Claudia Chávez.

noticia por : UOL

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