Comemos o que comemos também por emoções. Estresse, ansiedade, tristeza e frustração aumentam ou inibem nosso apetite. Durante a infância, há uma transição do chamado “comer emocional” insuficiente para o excessivo, sugerindo que fatores ambientais desempenham um papel significativo nesse comportamento.
“Coma tudo ou não terá sobremesa, hem?”, “Muito bem, comeu toda a salada, agora sim você merece o sorvetinho”. “Se você arrumar seu quarto, te dou um brigadeiro”. “Toma aqui esse pirulito e para já com esse chilique!”
Eis alguns exemplos muito realistas de práticas coercitivas associadas à comida, frequentemente empregada pelos pais. Oferecer guloseimas como prêmio por bom comportamento ou retirar alimentos desejados como forma de punição pode funcionar no calor do momento – e quem é pai ou mãe sabe bem do que estou falando –mas os efeitos colaterais disso sobre a regulação emocional e cognitiva dos pequenos são pouco conhecidos.
As pesquisadoras Lindsay Baker e Anita Fuglestad, do Departamento de Psicologia da Universidade Norte da Flórida (EUA) testaram a hipótese de que práticas coercitivas dos pais com alimentos –como usar comida para regular emoções– poderiam estar associadas ao aumento do comer emocional em crianças em idade pré-escolar. Participaram do estudo 221 mães de crianças de quatro e cinco anos, recrutadas por plataformas online. Foram aplicados questionários sobre práticas alimentares parentais, regulação emocional das crianças e comportamentos alimentares infantis.
Conforme suspeitaram Baker e Fuglestad, as práticas coercitivas dos pais foram associadas a níveis mais altos de comer emocional excessivo de seus filhos. Essa associação foi mediada por uma regulação emocional deficiente das crianças, sugerindo que aquelas com dificuldades em controlar suas emoções têm maior propensão a usar a comida como estratégia para lidar com elas. Ou seja, quando se frustram, entristecem ou estressam, comem mais.
As autoras também encontraram associação entre a coerção parental e a responsividade alimentar, isto é, o desejo de comer em resposta a estímulos externos, como a disponibilidade de alimentos ou cheiros atrativos. Esses achados sugerem que as práticas coercitivas podem aumentar a sensibilidade das crianças a esses sinais externos de comida, o que, combinado com déficits na regulação emocional, fortalece o impulso do comer emocional em excesso. Por razões que não estão claras, a coerção parental não se associou com o comer emocional insuficiente.
Todas
Discussões, notícias e reflexões pensadas para mulheres
Quando os pais utilizam alimentos como ferramenta de regulação comportamental dos seus filhos, o aprendizado de estratégias mais saudáveis de gerenciamento emocional –como o autocontrole e a atenção aos sinais de fome e saciedade– pode ser prejudicado. A comida, então, torna-se uma resposta fácil às emoções. E, futuramente, as emoções tornam-se inimigas da balança.
Mais uma notícia que pesa a consciência e amplia o mal-estar da parentalidade moderna, fadada a educar a prole com um pacote de bis numa mão e um smartphone noutra.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
noticia por : UOL