5 de fevereiro de 2025 - 18:39

Como a eleição de Motta e Alcolumbre interfere na sua vida?

Ouvi num podcast qualquer que essa briga insana entre bolsonaristas convictos & inflexíveis e a direita que se opôs ao apoio do ex-presidente a Hugo Motta e Davi Alcolumbre “não tem nada a ver”. Aliás, adoro notar que o debate político precisa ser reduzido a uma expressão tão vazia quanto “nada a ver” para se fazer compreendido.

Em seguida, o comentarista cujo nome não lembro, e juro que não é má vontade, disse que na rua ninguém sabe quem é Hugo Motta ou Alcolumbre. Ou seja, o povo não está nem aí e essa briga toda só diz respeito a quem tem tempo de sobra para discutir inutilidades pelas redes sociais. Tendo a concordar, mesmo que com ressalvas.

Transeunte distraído

Na hora me lembrei do meu amigo Di Franco, que publicou um texto nesta Gazeta do Povo dizendo que as pautas gritam nas esquinas, nas praças, nos pontos de ônibus e nas bancas de jornal convertidas em minilojas de conveniências. O que fiz, então? Fui perguntar aqui e ali para um ou outro transeunte distraído o bastante para responder a uma questão tão aleatória.

Me surpreendi e acho que tanto o Di Franco quanto o podcaster anônimo e você, leitor, também se surpreenderão: conversei com cinco pessoas e todas já tinham ouvido falar, sim, de Motta e Alcolumbre. Legal. Aí resolvi bancar o repórter enferrujado e perguntei se as pessoas estavam sabendo da briga, dessa coisa de intergalácticos, coisa e tal. Mas estou em Curitiba. Tratando com curitibanos. Então sabe como é: dois dos entrevistados seguiram adiante com o passo firme e decidido de quem já tinha conversado demais com um estranho por um dia.

Nada a ver

Os outros três, contudo, eram bem-informados (todos assinantes da Gazeta do Povo, fiquei sabendo depois) e responderam que ao menos já tinham ouvido falar da briga. Por fim, apenas um dos entrevistados (um senhor aposentado que só faltou me dar um abraço por estar conversando com ele àquela hora da manhã) ficou para ouvir a pergunta derradeira: como a eleição de Hugo Motta e Alcolumbre interfere na sua vida?

— O quê?! Fala nesse ouvido daqui que eu escuto melhor — pediu. Repeti a pergunta e ele só balançou negativamente a cabeça, como se dissesse “nada a ver, cara, nada a ver”.

Meu entrevistado politicamente mais bem-informado e consciente foi embora sem responder, resmungando algum impropério em curitibanês arcaico. Enquanto isso, fiquei ali, com cara de tacho, me perguntando e agora perguntando a você, que também é bem-informado e politicamente consciente: como a eleição de Hugo Motta e Davi Alcolumbre, com ou sem o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, esquece isso por um instante, interfere na sua vida?

Rastro

Digo, sei que é possível estabelecer uma ligação entre o preço do café e essas decisões políticas todas. Basta querer e ter um pouquinho de criatividade, como já diria certo ministro do STF. E também sei que não me agrada nem um pouco a ideia de viver numa sociedade que banalizou a censura, a perseguição e prisão de oponentes políticos, e a troca de princípios por emendas do orçamento secreto.

Mas não é disso que estou falando. Não hoje. Estou falando sobre o dia a dia, também conhecido como “cotidiano”. No trato com a família e os amigos, por exemplo. Na realização de seus projetos e sonhos. No cumprimento de seus deveres, etc. Enfim, como as eleições do novo presidente da Câmara e do Senado interferem no rastro que, tenho certeza, você pretende deixar neste mundo?

“Elogio da alienação”

Pedindo desde já desculpas aos que se sentirem ofendidos pelo que pode soar como um “elogio da alienação”, mas juro que não é, eu mesmo não encontrei resposta para essa minha pergunta. E olha que procurei, hein?

O que encontrei foi, no máximo, umas paranoias diante das quais sou impotente e uma ou outra hipotética cara feia de quem faz questão de ter razão em absolutamente tudo. Ah, e encontrei também uma moeda de 5 liras turcas entre as almofadas do sofá. Como ela foi parar ali, não tenho a menor ideia.

noticia por : Gazeta do Povo

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