11 de fevereiro de 2025 - 14:09

Alunos de SP melhoram na alfabetização, mas patinam no fim do fundamental e do ensino médio

Os alunos das escolas estaduais de São Paulo apresentaram uma melhora nas notas de língua portuguesa e de matemática no 2º ano do ensino fundamental, com avanço no número de crianças alfabetizadas, mas o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) ainda patina na recuperação de aprendizagem dos estudantes do 9º ano do fundamental —o último da etapa— e do 3º ano ensino médio.

Os resultados fazem parte da edição 2024 do Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), que foram recebidos pelo governo do estado na última sexta-feira (7) e obtidos com exclusividade pela Folha.

O 2º ano do fundamental, que atende crianças de sete anos, obteve os melhores resultados. A nota de matemática subiu de 6,2 para 9, um aumento de 45,3%. Em português, a nota foi de 6,7 para 8,6, o que representa uma melhora de 28%. Nesse caso, a escala de notas é a convencional, de 0 a 10, a depender da porcentagem de acertos, de 0 a 100%.

O Saresp, contudo, utiliza historicamente outro parâmetro para a avaliação, mais complexo, com uma pontuação que vai se acumulando a cada ano escolar e pode ser avaliada por meio de uma tabela de proficiência. Essa tabela divide os níveis de aprendizagem em “abaixo de básico”, “básico”, “adequado” e “avançado”.

A gestão Tarcísio optou pela conversão dos resultados do Saresp para notas de 0 a 10, mas, para se ter uma noção da evolução histórica da educação paulista e uma comparação com outros anos, é preciso utilizar a métrica anterior.

Pelo resultado tradicional do Saresp, as notas de matemática do 2º ano subiram de 167,2 pontos em 2023 para 196,7 em 2024 –na tabela de proficiência, o resultado de 2023 está na faixa de aprendizado “básico”, e o de 2024, “adequado”.

No caso de português, as notas foram de 174,7 pontos em 2023 para 195,8 em 2024. Isso significa que subiu de aprendizado “adequado” para “avançado”.

Esses resultados conectam-se também à melhora nos índices de alfabetização dos alunos da rede, que ocorre em meio a um esforço nacional para que as crianças sejam alfabetizadas na idade correta (6 e 7 anos), com apoio de diferentes esferas governamentais e de organizações da sociedade civil.

O Saresp 2024 aponta que 65,8% dos alunos da rede estadual estão alfabetizados na idade correta, ante 53,8% do ano passado –com isso, São Paulo ultrapassa a meta de 2024 estipulada pelo MEC (Ministério da Educação) para o estado, de 57%.

Já com os formandos do ensino fundamental e do médio, a gestão Tarcísio pouco evoluiu, e, em alguns aspectos, houve piora. No 9º ano, em português, os alunos foram de 234,4 pontos em 2023 para 240,3 em 2024, uma subida que ainda não chega aos resultados da pré-pandemia (249,6 pontos em 2019).

Em matemática, a variação foi ainda mais inexpressiva, de 246,3 em 2023 para 248,2 em 2024 (antes da pandemia, em 2019, o resultado foi de 259,9 pontos).

Nos dois casos, português e matemática, os resultados são classificados no nível de aprendizado básico da tabela de proficiência, abaixo, portanto, do adequado.

O Saresp também apontou um aumento no número de estudantes com os piores resultados. Em 2023, eram 26,3% os alunos com aprendizagem “abaixo do esperado” em português. Em 2024, esse índice subiu para 27,7%.

Em matemática, o número de alunos com nível “abaixo do esperado” aumentou de 34,3% em 2023 para 36,4% em 2024.

Ensino médio ficou estagnado

No caso do 3º ano do ensino médio, o Saresp foi substituído em 2023 pelas notas do Provão Paulista, vestibular seriado criado pela gestão Tarcísio que oferta vagas para instituições de ensino superior paulista, como a USP.

Desde então, o desempenho ficou praticamente estagnado. Em português, foi de 3 para 3,1. E em matemática, de 2,5 para 2,7. No último caso, isso significa que os estudantes acertam menos de 30% das questões das provas.

Secretário de Educação do Estado de São Paulo, Renato Feder admitiu a dificuldade os anos finais, especialmente no 9º ano. “Temos que olhar com atenção para esse aumento no número dos alunos com aprendizado abaixo do esperado, é preocupante”, afirmou à Folha.

“São alunos com muita defasagem de aprendizado e temos a política de aprovação automática, em que o aluno vai sendo aprovado mesmo sem o conhecimento necessário para a série seguinte. Vamos ter que aumentar ações como o programa de tutoria”, disse.

A intenção, segundo o secretário, é contratar professores para tutoria em português e matemática para todas as escolas no segundo semestre.

No semestre passado, apenas 200 das mais de 5.000 unidades escolares do estado contavam com o programa e, neste ano, o número subiu para 600.

Ele também ponderou que a estagnação das notas pode estar relacionada ao aumento da adesão às provas do Saresp, a partir de programas de incentivo, como bolsas de estágio, intercâmbio e vagas nas universidades. “No 3º ano, a adesão girava em torno de 65%, e agora subiu para cerca de 85%”, afirmou.

Feder comemora os resultados do 2º ano, que chamou de “espetaculares”. Ele atribui a melhora ao aumento da carga horária em português e matemática, a recursos pedagógicos digitais, como as plataformas Matific e Khan Academy (de matemática) e Elefante Letrado (português), além do treinamento de professores.

O secretário afirma que os restados do Saresp do 5º ano, que atende estudantes na faixa de dez anos, foram “bons, consistentes”. “Também subiram as notas nos outros anos, do 6º ao 9º. Foi o que a gente gostaria? Não. Também não chegaram a índices que já tivemos no passado”, afirmou. “Mas avaliamos que as ações estão na direção certa, que conseguimos organizar a rede e que os resultados serão melhores em 2025.”

O Saresp, historicamente, avaliava estudantes do 5º e do 9º ano do fundamental e do 3º do ensino médio, em português e matemática. Em 2021, o 2º ano foi incluído, ainda no governo tucano. A partir de 2023, Tarcísio optou por aplicar o Saresp também no 6º, 7º e 8º anos, e incluir todas as disciplinas do currículo.

No ensino médio, como o Saresp foi substituído pelo Provão Paulista, mudando critérios da avaliação, isso impede uma comparação com os resultados até 2022.

noticia por : UOL

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