Mas depois de semanas de incertezas devido às medidas protecionistas de Trump, na segunda-feira (10/03) as ações americanas caíram vertiginosamente, em meio a temores de que a maior economia do mundo possa entrar em recessão ainda este ano.
O índice Dow Jones caiu quase 900 pontos; o S&P 500, 2,7%; e o Nasdaq, com 4%, teve sua maior queda em dois anos e meio.
Tesla lidera baixa
A Tesla, empresa de carros elétricos chefiada por Elon Musk, grande aliado de Trump, despencou 15%, enquanto as ações das chamadas “Magnificent 7” – as “sete empresas magníficas”, ou seja, Apple, Microsoft, Google Alphabet, Amazon, Nvidia, Meta e Tesla – entraram coletivamente em declínio. Essas ações perderam mais de 20% do seu valor desde dezembro, como observou o Deutsche Bank.
Somadas, as fortunas dos cinco bilionários que compareceram à posse de Trump encolheram em 209 bilhões de dólares (R$ 1.211,8 bilhões) desde o dia 20 de janeiro, informou a agência de notícias Bloomberg. Musk sozinho perdeu 144 bilhões de dólares (R$ 834,9 bilhões).
Por um lado, os mercados até pareciam estar reagindo bem aos comentários feitos por Trump no fim de semana, quando o presidente americano minimizou o impacto de suas ameaças tarifárias a Canadá, México e outros parceiros comerciais importantes.
O republicano também pareceu desdenhar dos possíveis impactos que sua estratégia de negociação teria sobre as ações.
“Pode haver uma pequena perturbação [nos mercados financeiros]. O que eu tenho que fazer é construir um país forte. Não dá para ficar de olho no mercado de ações”, disse Trump ao canal Fox News no domingo à noite.
“O presidente Trump parece ter abandonado o mercado americano de ações e está disposto a colocar sua visão política acima das perspectivas de curto prazo para a economia dos EUA”, escreveu Kathleen Brooks, diretora de pesquisa da plataforma de negociação XTB, na segunda-feira, após as quedas nos mercados.
Após o fechamento do mercado, o banco de investimentos Citi rebaixou as ações americanas de “robustas” para “neutras”, alertando que agora acredita que o impulso de crescimento dos EUA “ficará aquém” do resto do mundo.
O banco britânico HSBC também reduziu as ações americanas para “neutras” em relação aos próximos três a seis meses, dizendo que o credor vê, “no momento, melhores oportunidades em outros lugares”.
Sem “pouso suave”?
Legisladores americanos passaram o último ano tentando evitar que a economia entrasse em recessão. As taxas de juros caíram após um recente pico de 5,33%, o que ajudou a reduzir uma inflação que vem crescendo há décadas.
As políticas tarifárias de Trump, porém, ameaçam interromper os esforços para alcançar um chamado “pouso suave” em meio à crise. Novas taxas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio para os EUA devem entrar em vigor nesta quarta-feira, enquanto as novas tarifas sobre produtos chineses dobraram para 20%.
Susannah Streeter, diretora financeira e de mercados da Hargreaves Lansdown, alertou que “a hipótese de uma recessão nos EUA está à espreita, com a confiança do consumidor caindo, as empresas enfrentando uma complexidade comercial cada vez maior e os investidores ficando mais nervosos”.
Além disso, os vastos cortes no setor público liderados pelo chamado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), sob o comando de Musk, ameaçam frear o crescimento, uma vez que tirarão empregos e investimentos da economia.
“Mercado e economia viciados”
O Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, reconheceu na semana passada que este é um período de “ajuste natural”, à medida que o volume maior de gastos nos EUA migrou do setor público para o setor privado.
“O mercado e a economia estão viciados. Ficamos viciados nos gastos do governo, e haverá um período de desintoxicação”, afirmou Bessent à rede CNBC na sexta-feira, acrescentando que um “um único ajuste de preço” seria algo esperado pela política tarifária de Trump.
Atualmente paira sobre os EUA a ameaça de uma paralisação parcial do governo, caso o Congresso não aprove um plano de Trump para os gastos públicos. A medida ainda depende do aval do Senado, onde terá que ser endossada também pela oposição democrata.
A última vez em que o governo americano parou por falta de dinheiro foi entre o final de 2018 e o início de 2019, por 35 dias, durante o primeiro mandato de Trump.
Menos crescimento, mais inflação
O Goldman Sachs reduziu a previsão de crescimento para a economia dos EUA em 2025 de 2,4% para 1,7%. O banco americano de investimentos também aumentou a previsão de inflação para 3% – acima, portanto, dos 2% previstos anteriormente.
“O motivo do rebaixamento é que nossas premissas de política comercial se tornaram consideravelmente mais adversas”, escreveu Jan Hatzius, analista do Goldman.
Enquanto isso, o governo Trump insiste que mais tarifas sobre importações e cortes de impostos ajudarão a impulsionar a economia.
Em um comunicado na segunda-feira, o porta-voz da Casa Branca, Kush Desai, escreveu que os líderes industriais e setoriais reagiram ao segundo mandato de Trump “com trilhões em compromissos de investimento”.
“O presidente Trump proporcionou um crescimento histórico de empregos, salários e investimentos em seu primeiro mandato, e está pronto para fazer isso novamente no segundo mandato”, afirmou Desai.
Autor: Nik Martin (com AFP, AP e Reuters)
noticia por : UOL