14 de março de 2025 - 23:09

De repente, velho

Um dia você está no bloquinho de Carnaval, no outro, o ciático dói só de ouvir a bateria da escola de samba. Parece exagero, mas leio no The New York Times que os cientistas investigam a hipótese de o envelhecimento não acontecer de forma linear, mas por meio de grandes saltos. Eu diria quedas. Um estudo da Universidade de Stanford concluiu que as pessoas parecem envelhecer mais rapidamente por volta dos 44 anos. Essa primeira rasteira do organismo poderia explicar por que, de repente, começamos a ter mais ressaca, mais dificuldade de processar gorduras e aquela perda de massa muscular que faz você se sentir um miojo desidratado.

Sim, um dia, me olhei no espelho e me senti velha. Velha no estereótipo clássico do século passado. E não falo das rugas, porque não se trata apenas da aparência —é o olhar cansado, o ombro caído, a falta de energia até para escovar os dentes. De um dia para o outro, viver passou a ser muito mais cansativo. Tudo precisa de esforço. Depois de umas taças de vinho dá vontade de morrer um pouco ou deitar para sempre em posição fetal. O estômago protesta só de sentir o cheio de cúrcuma. A paciência… que paciência? Minha bateria social despenca no meio qualquer rolê. Penso, o que estou fazendo aqui no meio dessa gente? Comecei a pegar bode de quem adoro. Agora entendo que não são elas, sou eu.

E tem o climatério e depois a menopausa, que me empurraram do precipício da vitalidade. Ainda estou pendurada ali, segurando com uma mão só, mas já considerando largar e ver no que dá. Pelo menos culpar tudo isso por não me lembrar do nome ou até das pessoas. Pode ser que seja só desinteresse mesmo, mas ponho na conta da névoa mental.

O segundo tombo, segundo os especialistas, acontece aos 60. Por meio de análises nos marcadores relacionados à idade, como proteínas e DNA presentes na corrente sanguínea, eles perceberam que nessa fase o sistema imunológico começa a colapsar. A partir daí, basta respirar errado para ficar doente. E quando você começa a se acostumar com a pele meio muxibenta, piora. O pouquinho de músculo adquirido com muito sofrimento escorre elo ralo, junto com a água do banho. Um filme de terror, como em “A Substância”.

Como em quase todo estudo científico, ainda há mais perguntas do que respostas. Os médicos ainda tentar entender o que, além da idade, impacta no envelhecimento. Todo mundo concorda que estilo de vida pesa, mas eles querem saber quais órgãos podem ser mais beneficiados com as mudanças e como isso afetaria o envelhecimento no conjunto da obra. Diferença entre gêneros, gravidez, traumas e até infecções por Covid também estão no foco das pesquisas.

Pelas minhas contas, tenho mais sete anos antes de entrar no outro patamar da velhice que a medicina começa a desvendar. Mas já quero saber o que me espera lá pela frente ou se, com todos esses avanços, será possível tomar decisões práticas para chegar aos 80, 90 anos com menos sustos na hora de enfrentar o espelho e a vida. E que eu possa tomar meu vinho sem me sentir um pano de chão velho, no dia seguinte.


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noticia por : UOL

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