20 de abril de 2025 - 0:57

Economistas chineses oferecem saídas para cortar dependência dos EUA

A escalada tarifária com os Estados Unidos abriu uma corrida entre economistas chineses para influenciar a reação do país. A linha de chegada é a reunião do Politburo, o grupo de 24 líderes do Partido Comunista da China, no final deste mês, que deve definir as medidas de estímulo econômico.

O banco estatal de investimentos China Galaxy Securities soltou nota avaliando que as diversas ferramentas, a serem aprovadas na reunião, poderão superar 2 trilhões de yuans (R$ 1,6 trilhão ou US$ 270 bilhões).

Entre os economistas chineses que passaram a se manifestar em diferentes plataformas, a prioridade ao consumo é consensual, como resposta à limitação das exportações pelos EUA. Três deles foram chamados pelo primeiro-ministro Li Qiang, que concentra o debate financeiro em Pequim.

Suas falas não foram divulgadas, mas eles vêm se pronunciando abertamente. Zhang Bin, da Academia Chinesa de Ciências Sociais, a instituição oficial por excelência, se concentra na necessidade de investimento público como saída para a baixa demanda.

Cita especificamente o investimento em serviços públicos, que na China não chega a 5% do total, enquanto EUA e Alemanha destinariam mais de 17%. Sublinhando a falta de moradia adequada para migrantes nas grandes cidades, defende melhorias básicas, inclusive em cultura e esporte.

Diz não ver riscos significativos de endividamento, porque o crescimento resultante do investimento elevaria as receitas públicas.

Li Xunlei, economista-chefe do Zhongtai Financial International, também convocado, vem escrevendo que, dada a esperada redução no crescimento das exportações, as vendas no varejo precisarão aumentar mais de 5% neste ano, contra apenas 3,5% no ano passado.

Para incentivar o consumo e atingir tal resultado, defende um “crescimento salarial razoável para os trabalhadores”, sobretudo de renda média e baixa. Para tanto, enfatiza o papel das estatais, por exemplo, na contratação de recém-formados no ensino superior, e sugere simplificar pedidos de benefício pelos desempregados.

O terceiro na lista do primeiro-ministro foi Shen Jianguang, vice-presidente e economista-chefe da JD.com —empresa de comércio eletrônico que vem prometendo comprar 200 bilhões de yuans (R$ 160 bilhões) em produtos chineses hoje exportados, para oferecer no mercado interno.

Não se sabe o que sugeriu na reunião, mas Shen escreveu recentemente que, apesar do sucesso em inteligência artificial, carros elétricos e baterias, “as empresas privadas ainda encaram tratamento injusto em várias áreas, incluindo restrições de acesso a mercado e constrangimentos regulatórios para IPOs de tecnologia”.

Outros economistas vêm se manifestando, inclusive Li Daokui, da Universidade Tsinghua, que falou à Folha na semana passada e vem defendendo em plataformas chinesas um ajuste na política para o setor imobiliário, entre outros com impacto sobre consumo interno.

Yao Yang, da Universidade de Pequim, levanta propostas mais ousadas de abertura econômica, com o intuito de atrair a negociação com os EUA. “Abrir o mercado interno, especialmente na indústria de serviços, ainda oferece espaço significativo na China”, disse, argumentando que “a dificuldade para reformas tem aumentado”.

Enfatizou que a demanda interna não pode ser restrita ao “consumo pessoal”, com os gastos dos governos locais e do setor imobiliário respondendo “por cerca de metade da demanda interna total”. Daí ele defender atenção prioritária às dívidas locais e à crise imobiliária.

Robin Xing, economista-chefe de China no Morgan Stanley, também fez sugestões mais extremas em evento da Universidade Renmin, em Pequim. Entre outras, anunciar que até 2030 “a China reduzirá a zero as tarifas sobre os produtos de todos os outros países, excluindo os EUA”. E que elevará o consumo interno em 30%.

Seriam formas de marcar a decisão de “mudar para um modelo dirigido pelo consumo interno”, deixando de ser “uma economia orientada para manufatura”.

Outra intervenção inusitada no evento da Renmin, mas em direção oposta, foi do veterano Yu Yongding, 76, da Academia Chinesa de Ciências Sociais e ex-membro do Comitê de Política Monetária do Banco do Povo da China, o banco central chinês.

Ele questionou a visão corrente de que a redução no crescimento econômico é inevitável na China e que um crescimento impulsionado por investimento público seja insustentável. Afirmou que o país deve aproveitar o espaço atual para financiamento e elevar seus déficits.

E que alcançar a meta de 5% de crescimento neste ano “fortalecerá a confiança do mercado e do público na recuperação econômica da China”, uma confiança que estimulará “os gastos do consumidor e os investimentos”.

noticia por : UOL

20 de abril de 2025 - 0:57

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