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Ana Graciela Mendes Fernandes da Fonseca Voltolini é doutora em Comunicação Social, com pós-doutorado pela UFMT.
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Ana Graciela Mendes Fernandes da Fonseca Voltolini é doutora em Comunicação Social, com pós-doutorado pela UFMT.
ANA GRACIELA MENDES FERNANDES DA FONSECA VOLTOLINI
“Qual faculdade você pensa em fazer no futuro? Faculdade? Eu já ganho mais que 5 médicos no mês”. De acordo com matéria do g1, portal de notícias da Globo, conteúdos que minimizam a importância do estudo vêm sendo propagados nas redes sociais por “influenciadores mirins” que ostentam a ideia de trabalho fácil e uma vida de luxo. Esses menores desdenham da educação e dizem ganhar muito dinheiro vendendo cursos.
O interesse pelo dinheiro fácil, uma rápida ascensão, com o mínimo de esforço, sem ingressar em um curso superior, por exemplo, se coloca com um desafio nos últimos anos. Além de dificuldades financeiras, emocionais e sociais, as tecnologias digitais e as redes sociais, impõem desafios ao ensino superior. O ingresso no ensino superior, antes um objetivo, passa a ser desvalorizado, questionado.
Os dados do Censo da Educação Superior de 2023 mostram os desafios e a urgência que recai sobre o ensino superior. Dados que apresentam o número de participantes no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mostram a evolução da participação entre os anos de 1998 e 2022, no entanto, a partir de 2017, observa-se uma queda, chegando a apenas 2,74 milhões de participantes em 2023. O Enem se consolidou como porta de entrada para o ensino superior, especialmente após a reformulação do exame em 2009, que o integrou ao Sistema de Seleção Unificada (SiSU).
Essa queda pode estar relacionada a diversos fatores, entre os já mencionados, mas também a pandemia de COVID-19, mudanças na percepção sobre a universidade e o aumento da evasão escolar no ensino médio. Os dados apontam para um cenário recente de desengajamento estudantil, que aponta para desafios estruturais na educação brasileira. A queda no número de participantes deve ser analisada com atenção, pois pode refletir dificuldades de acesso, desinformação ou mesmo descrença no valor da formação universitária.
Apesar das mudanças apontadas, que afetam diretamente os mais jovens, considerando sua vivência na Internet e nas redes sociais, o Censo Demográfico 2022 aponta que de 2000 a 2022, na população do país com 25 anos ou mais de idade, a proporção de pessoas que tinham nível superior completo cresceu 2,7 vezes: de 6,8% para 18,4%. Os dados permitem afirmar que ingressar no ensino superior ainda representa um passo importante na construção de uma carreira profissional. No entanto, permanecer na universidade e concluir o curso são etapas que impõem desafios tão grandes quanto o ingresso.
A evasão estudantil ainda é uma realidade preocupante no Brasil, refletindo uma série de fatores sociais, econômicos e institucionais que dificultam a permanência dos estudantes no ambiente acadêmico. Quando olhamos os indicadores da trajetória dos estudantes, com dados Censo da Educação Superior de 2023, a taxa de desistência gira em torno de 59%, indicando que mais da metade dos estudantes abandona o curso antes de concluir.
Muitos alunos precisam conciliar trabalho e estudo para garantir sua subsistência, o que pode afetar diretamente seu desempenho acadêmico, como também dificulta o acesso à educação superior. Os dados do Censo 2023 revelam a importância de programas voltados ao ensino superior como o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Os indicadores de trajetória, calculados a partir do Censo da Educação Superior, apontaram, que esses programas impactam positivamente no índice de concluintes dos cursos de graduação no Brasil.
Os dados e aspectos aqui levantados apontam para os desafios da educação superior. Com os mais jovens, é momento de demonstrar a relevância da formação superior, como caminho concreto e seguro para a construção de uma carreira profissional. Para estes, e também para os demais, é preciso fortalecer as políticas públicas existentes e desenhar outras cada vez mais eficientes e eficazes.
Diante da crescente desvalorização do ensino superior em determinados segmentos sociais, especialmente impulsionada por discursos disseminados nas redes sociais, os dados do Censo da Educação Superior de 2023 evidenciam a necessidade de ações estruturadas que promovam não apenas o acesso, mas também a permanência e a conclusão dos cursos de graduação. Nesse contexto, políticas públicas como o Prouni e o Fies se mostram estratégicas para mitigar desigualdades de acesso e fomentar a continuidade dos estudos. Reverter esse cenário requer uma articulação entre instituições de ensino, Estado e sociedade civil, com foco na valorização da educação superior como instrumento de desenvolvimento social.
Ana Graciela Mendes Fernandes da Fonseca Voltolini é doutora em Comunicação Social, com pós-doutorado pela UFMT. Desde 2011, atua como docente em cursos de graduação, atualmente é coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ensino (Unic/IFMT). Desenvolve pesquisas nas áreas de Comunicação e Educação, com foco em Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC), Multiletramentos e Educação Midiática.
FONTE : ReporterMT