12 de maio de 2025 - 14:34

América Latina teme represálias comerciais dos EUA após fortalecer relação com a China

A Colômbia enfrenta a possibilidade de represálias comerciais dos EUA depois que seu presidente de esquerda, Gustavo Petro, anunciou que planeja aderir à iniciativa de infraestrutura Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês) durante uma visita à China para uma reunião regional na próxima semana.

O dilema de Bogotá reflete um problema mais amplo enfrentado pela Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos): como diversificar o comércio e os investimentos sem incorrer na ira do presidente dos EUA, Donald Trump.

Pequim sediará um fórum ministerial com a Celac no dia 13 de maio, no qual o presidente chinês, Xi Jinping, fará o discurso de abertura, conforme relatou a mídia estatal Xinhua no domingo (11), destacando a importância do evento para Pequim.

Petro ocupa a presidência rotativa da Celac este ano, e a Colômbia tem sido, há muito tempo, um dos aliados mais importantes dos EUA na América do Sul. Portanto, uma adesão de Bogotá à BRI seria uma vitória significativa para Pequim, com os comentários de Petro já provocando um alerta de Washington.

“O estreitamento de Petro com a China é uma grande oportunidade para as rosas do Equador e o café da América Central [nos EUA]”, disse Mauricio Claver-Carone, enviado especial para a América Latina no Departamento de Estado dos EUA.

Empresários colombianos, que dependem dos EUA para exportações como café e flores cortadas, interpretaram as palavras do enviado como uma ameaça disfarçada dos EUA de favorecer seus competidores mais próximos. Assessores de Petro se mobilizaram para tentar convencer o presidente a adiar o anúncio da adesão à BRI.

Cui Shoujun, especialista em relações com a América Latina na Universidade Renmin de Pequim, diz que China e a região devem usar a reunião da próxima semana para “demonstrar seu compromisso” em avançar na cooperação, apesar da guerra comercial de Trump.

“A América Latina é um parceiro comercial muito importante como continente”, diz. “O comércio bilateral [com a China] neste ano pode ultrapassar US$ 500 bilhões (R$ 2,8 trilhões)”.

Eventos como o encontro China-Celac tornaram-se cruciais para Pequim tentar contrabalançar o impacto das altas tarifas de Trump entre seus parceiros comerciais. O maior receio de Pequim é que Washington convença esses países a assinarem acordos comerciais que cortem mercados de exportação vitais, em um momento em que a economia interna fraca da China não consegue absorver sua enorme produção manufatureira.

Enquanto isso, os países da América Latina estão avaliando como gerenciar suas relações com Pequim em um momento de aguda tensão geopolítica. O Panamá tem enfrentado pressões dos EUA sobre o que Washington vê como controle excessivo da China sobre seus portos e as ameaças de Trump de retomar o canal. No início deste ano, o Panamá foi forçado a se retirar da BRI.

A declaração dos EUA sobre o Panamá “enviou uma mensagem mais ampla à região sobre o investimento chinês e o controle de infraestruturas sensíveis”, diz Michael McKinley, ex-alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA.

“A maioria dos países da América Latina, no entanto, tem uma visão amplamente transacional sobre sua relação com a China e não está procurando alinhar-se politicamente com Pequim. A região quer diversificar seus mercados, mas também quer sustentar laços comerciais e de investimento com os EUA”.

O Brasil, a maior economia da região, já tem a China como seu principal parceiro comercial. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participará da reunião da Celac, fará uma visita oficial à China e realizará o que será seu terceiro encontro com o presidente chinês em pouco mais de dois anos. Gabriel Boric, outro de esquerda que é presidente do Chile, maior produtor mundial de cobre, também participará da reunião da Celac.

Atentos ao contexto diplomático delicado, diplomatas brasileiros descreveram o evento como uma continuação da política de longa data do Brasil de engajar as potências do “sul global” na busca por multilateralismo, e não como uma resposta às tarifas de Washington.

A reunião ministerial da Celac, a primeira desde 2021, vai acordar um plano para guiar as relações entre a América Latina e a China, em um momento em que Trump tenta reafirmar a primazia dos EUA sobre o que Washington costumava chamar de seu “quintal“.

O México, que depende do mercado dos EUA para mais de 80% de suas exportações, está em uma posição particularmente delicada. O país tem enfrentado crescente pressão dos EUA sobre as importações e investimentos chineses, particularmente no setor automotivo, voltado para exportações. Desde a pandemia de coronavírus, as empresas chinesas têm visto o México como um local atraente para exportar para os EUA, devido à sua proximidade e ao tratamento preferencial sob o acordo comercial USMCA (Sigla para Acordo Estados Unidos-México-Canadá).

Após anos sem uma política claramente definida, os funcionários mexicanos agora tomaram medidas para tentar limitar a presença da China. O governo impôs tarifas sobre uma ampla gama de produtos chineses, de aço a têxteis, prometeu criar um programa nacional de triagem de investimentos de segurança nacional e tentou ajudar os fabricantes a substituir insumos chineses por locais.

Wen-Ti Sung, cientista político especializado em China e Taiwan no Atlantic Council e na Universidade Nacional Australiana, diz que estreitar laços com a América Latina daria à China uma posição mais forte nas negociações com os EUA.

A China está interessada em persuadir Washington a recuar em relação a Taiwan e ao Mar do Sul da China, ambos considerados pela China como parte de sua esfera de influência.

“A China gosta de acumular alavancagem nas negociações, e uma das melhores maneiras de fazer isso é criar alguns sinais de dissensão, alguns sinais de forças centrífugas no quintal imediato do seu adversário”, disse Sung, acrescentando que “a China tem muitos incentivos” para explorar qualquer esforço dos países latino-americanos de se afastar dos EUA.

noticia por : UOL

12 de maio de 2025 - 14:34

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