14 de maio de 2025 - 1:43

Em entrevista à New Yorker, Lula ataca Trump e finge concordar com Reagan

O biógrafo de Che Guevara está de volta. Um mês depois de assinar um perfil de Alexandre de Moraes, o jornalista e escritor Jon Lee Anderson agora publicou uma entrevista com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A reportagem saiu na New Yorker, a revista preferida da elite progressista americana.

À vontade, o presidente criticou diretamente o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o Partido Republicano. Apesar de décadas criticando o “neoliberalismo”, Lula também disse ter aprendido com Ronald Reagan e Margaret Thatcher e se disse um defensor do livre comércio.

Retrato positivo de Lula na New Yorker

Jon Lee Anderson não quer colocar Lula contra a parede. Na reportagem da New Yorker, ele descreve o petista em termos generosos, como se o ex-sindicalista fosse alguém de intelecto sofisticado e preocupado com o futuro da democracia.

“Lula construiu uma carreira baseada em princípios de esquerda inabaláveis, mas também sempre se orgulhou de sua capacidade de se relacionar com diversos líderes. Agora, no entanto, ele confessou que está perplexo com os populistas de direita e antiglobalistas que estão ganhando poder ao redor do mundo”, afirma Anderson.

O texto não menciona casos de corrupção ou a falta de resultados do governo. Em vez disso, dá espaço para que Lula comente sobre política internacional. 

Política externa globalista

Na conversa com Anderson, Lula repetiu seu mantra de que é possível resolver todos os problemas globais com base na conversa e na união entre os países. Ele citou como exemplo a poluição do ar e o aquecimento global. “Ainda não chegou aos líderes mais importantes do mundo que precisamos de governança global para tomar algumas decisões globais”, ele afirmou.

Na entrevista, Lula também fez uma “revelação” questionável: ele diz que aprendeu com a política econômica de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, dois líderes que defenderam o livre mercado — e cujo nome costuma despertar ojeriza em sindicalistas de esquerda.

“Eu sou de uma geração que aprendeu nos anos 80, com Reagan e Margaret Thatcher, que a melhor coisa para o mundo era a globalização e o livre comércio. Os produtos deveriam fluir livremente pelo mundo. O dinheiro deveria fluir livremente pelo mundo”, disse Lula.

O comentário era uma referência direta ao crescimento da China e indireta às tarifas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Mas, na verdade, Lula não aprendeu “nos anos 80”. Na época, e também durante a década seguinte, ele fazia críticas agressivas contra as políticas de Reagan e Tatcher. Aliás, ele as continua fazendo.

“O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos”, ele disse, em 2023, em um discurso na ONU. Há apenas sete meses, em um pronunciamento no G20, ele afirmou que “a globalização neoliberal fracassou”.

Não está claro de onde veio a admiração repentina de Lula por Reagan e Thatcher.

Lula: Trump diz “bobagem”

As críticas a Donald Trump permeiam a entrevista de Lula à New Yorker. Talvez sem se lembrar da importância das relações diplomáticas com os Estados Unidos, Lula disse que o presidente americano diz “bobagens” (nonsense, na versão em inglês publicada pela New Yorker).

“Vi um discurso dele no Congresso dos EUA recentemente, e foi absurdo — aqueles republicanos aplaudindo qualquer bobagem que ele dissesse. Era quase o mesmo tipo de discurso que os anarquistas costumavam fazer na Itália e no Brasil no início do século, clamando por uma sociedade sem instituições, uma sociedade onde o império do capital impera”, disse o presidente do Brasil.

“O fato de o vice-presidente dos EUA interferir na política alemã já é um crime. Nunca fui a outro país para interferir em uma eleição!”, disse Lula, segundo a revista americana. O petista se referia a uma visita de JD Vance à Alemanha, em fevereiro deste ano. Embora não tenha pedido votos à AfD, principal partido de direita alemão, Vance fez um discurso que foi interpretado como um apoio tácito à sigla.

Para Lula, Donald Trump, o vice-presidente JD Vance e o bilionário Elon Musk são “negacionistas das instituições que garantem a democracia no mundo”.

Simpatia pela China

Na entrevista à publicação americana, Lula também defendeu que o Brasil se mantenha neutro entre a Rússia e a Ucrânia. “Meu amigo Olaf Scholz [então chanceler da Alemanha] veio aqui, sentou naquele sofá e pediu ao Brasil que lhe vendesse mísseis para que ele pudesse enviá-los à Ucrânia. Eu disse a ele que não venderia, com todo o respeito, porque não queria que nenhum ucraniano ou russo morresse com uma arma brasileira”, o presidente afirmou.

Lula ainda defendeu a China como uma espécie de contraponto ao domínio tecnológico americano. “Graças a Deus temos a China que, do ponto de vista tecnológico, é muito avançada e pode competir no mundo tecnológico da I.A., dando para nós uma alternativa nesse debate”, o petista afirmou.

A entrevista aconteceu no Palácio do Planalto, em Brasília. O texto da New Yorker é acompanhado por uma foto posada de Lula. De pé, com a mão direita apoiada em um banco de madeira, ele usou a célebre gravata com as cores do Brasil usada no anúncio de que o Rio de Janeiro sediaria as Olimpíadas de 2016. Atrás, o fundo era vermelho monótono.

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noticia por : Gazeta do Povo

14 de maio de 2025 - 1:43

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