14 de maio de 2025 - 22:32

Vazamento de conversa sobre TikTok irrita Lula e fecha giro controverso por Rússia e China

O vazamento de uma conversa que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, tiveram com o líder da China, Xi Jinping, irritou o presidente brasileiro e deixou um sentimento agridoce à viagem já controversa da delegação de Brasília por Moscou e Pequim.

Integrantes da comitiva brasileira ouvidos pela Folha disseram que Janja causou constrangimento ao comentar com Xi sobre efeitos nocivos do TikTok, plataforma chinesa de vídeos curtos, com impactos sobretudo nas crianças e mulheres. Segundo o portal G1, ela teria dito que o algoritmo da rede favorece a direita.

Embora Lula tenha negado desconforto com as autoridades de Pequim, o vazamento irritou o presidente, que criticou a própria delegação. Em entrevista coletiva nesta quarta-feira (14), ainda noite de terça no Brasil, ele questionou quem “teve a pachorra” de vazar a conversa que aconteceu em um jantar “muito confidencial e pessoal” e afirmou que o ministro incomodado devia ter pedido para sair do ambiente.

Segundo Lula, além das autoridades chinesas, só estavam presentes no encontro seus ministros, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e o deputado Elmar Nascimento (União-BA).

A suspeita pelo vazamento acabou afunilando no nome do ministro da Casa Civil, Rui Costa, de acordo com relatos feitos à coluna da Mônica Bergamo. Ele nega de forma veemente ter divulgado a conversa.

Os comentários de Janja com críticas ao TikTok podem ter sido interpretados pelo regime chinês como uma quebra de protocolo, avaliaram diplomatas ouvidos pela Folha.

Eles indicaram dois aspectos que podem explicar o incômodo da parte chinesa. O primeiro é o rígido protocolo que rege as visitas de Estado na China, em que tudo ocorre sob estrita formalidade. De acordo com pessoas que já interagiram nesses tipos de recepção, há pouco espaço para improvisação, e situações que fogem do combinado previamente são malvistas.

O segundo ponto é o fato de Janja, sem cargo oficial, ter interpelado Xi diretamente sobre um tema considerado sensível para Pequim. Em janeiro, por exemplo, a plataforma chegou a sair do ar nos EUA por decisão da Justiça —o restabelecimento ocorreu após Donald Trump prometer pausar a proibição.

Apesar do que consideram um erro, os diplomatas dizem que qualquer incômodo surgido pela situação tende a ser pontual e não deve ter maiores impactos sobre a relação bilateral entre Brasil e China, principalmente pela posição altamente pragmática de Pequim.

De acordo com Lula, a resposta de Xi ao caso foi a de que o Brasil tem o direito de fazer a regulamentação das redes. “Não é possível a gente continuar com as redes sociais cometendo os absurdos que cometem, e a gente não ter a capacidade de fazer uma regulamentação”, disse o presidente brasileiro.

Ainda segundo Lula, Xi se comprometeu a enviar uma pessoa para discutir a regulamentação das redes no Brasil. Pequim não se manifestou sobre o conteúdo da conversa.

Lula também defendeu Janja. “O fato de a minha mulher pedir a palavra é porque ela não é uma cidadã de segunda classe. Ela entende mais de rede digital do que eu e resolveu falar. Foi só isso”, disse.

O caso veio à tona no final da viagem de Lula a China e Rússia e motivou novas críticas da oposição no Brasil. O giro já era considerado controverso, uma vez que a delegação brasileira esteve em Moscou para as comemorações pelo pelo fim da Segunda Guerra Mundial. Em tese uma celebração dos 80 anos da vitória russa no conflito, o evento foi, na prática, uma demonstração de força no momento em que Vladimir Putin tenta anexar parte da Ucrânia. Poucos chefes de Estado democráticos compareceram.

Na China, empresas anunciaram investimentos de cerca de R$ 27 bilhões no Brasil.

noticia por : UOL

14 de maio de 2025 - 22:32

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