16 de maio de 2025 - 9:19

Empresário condenado por chacina de Unaí (MG) morre em hospital de Brasília

O empresário Antério Mânica, condenado como mandante da chacina que vitimou auditores fiscais em Unaí (MG), morreu aos 71 anos na madrugada desta quinta-feira (15) no Hospital Sírio Libanês, em Brasília.

Ele tinha câncer no pâncreas e estava internado para tratamento. Mânica também era diabético e hipertenso.

No dia 9 de abril, ele foi submetido a uma cirurgia de emergência após sofrer traumatismo craniano ao cair no quarto do hospital, o que o deixou em estado grave e em coma induzido.

Nascido em Espumoso, no Rio Grande do Sul, o empresário foi prefeito de Unaí em dois mandatos consecutivos (2005-2008 e 2009-2012). Era produtor rural e liderança do agronegócio.

O crime, conhecido como chacina de Unaí, teve como vítimas os auditores do trabalho Eratóstenes Gonsalves, João Batista Lages e Nelson José da Silva. Eles foram assassinados a tiros, em janeiro de 2004, em uma emboscada, quando realizavam fiscalizações de trabalho análogo à escravidão na região rural.

O motorista Aílton de Oliveira, que acompanhava o trio, também foi morto na ação.

De acordo com o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho, a fiscalização era uma operação rotineira, embora existissem muitas denúncias de exploração de trabalhadores na região.

Mânica chegou a ser condenado a cem anos de prisão em outubro de 2015 por homicídio quádruplo, triplamente qualificado por motivo torpe, mediante pagamento e sem a possibilidade de defesa das vítimas.

No entanto, em novembro de 2018, a condenação foi anulada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que aceitou um recurso da defesa sobre insuficiência de provas. Um novo julgamento foi realizado em 2022 e ele então foi condenado a 64 anos de prisão.

O empresário se entregou à Polícia Federal, em Brasília, em setembro de 2023. Quando já estava preso, a pena aumentou novamente, para 99 anos e 11 meses, devido a uma nova decisão judicial. Em novembro de 2024 ele foi autorizado a cumprir prisão domiciliar por questões de saúde.

O irmão dele, Norberto Mânica, também foi condenado à prisão, com pena de 64 anos, como mandante do crime. Ele foi preso em janeiro deste ano em Nova Petrópolis (RS), após anos foragido. Três homens acusados de serem os executores do crime foram condenados, em 2013, a penas que vão de 56 a 94 anos de prisão.

Apesar da condenação, o empresário morto nesta quinta foi homenageado pela Prefeitura de Unaí. A administração municipal decretou luto oficial de três dias e afirmou, em texto publicado nas redes sociais, que ele marcou uma época “com sua forma de governar e pela dedicação com que conduziu a administração pública”.

“Sua liderança e compromisso com o desenvolvimento de Unaí deixaram marcas que até hoje são lembradas com respeito e admiração por grande parte da população”, diz a nota da prefeitura. “Que seu legado como homem público continue inspirando o espírito de serviço e a construção de um futuro melhor para a nossa gente”.

Segundo a prefeitura, entre as realizações de Mânica estão a canalização e a urbanização do córrego Canabrava, a travessia urbana de Unaí, a duplicação da ponte sobre o ribeirão Santa Rita, a construção e a reforma de escolas, a construção de um centro de controle de zoonoses e a criação do museu e da banda municipal.

A Câmara Municipal também fez uma homenagem ao ex-prefeito, em nota de pesar divulgada nas redes sociais.

“Católico praticante e membro do movimento de cursilho da cristandade, Antério também era um grande empresário e produtor rural, que contribuiu ativamente para o desenvolvimento de nossa economia”, declarou a direção do Legislativo.

O empresário deixa mulher, dois filhos e dois netos. O velório começa às 7h desta sexta-feira (16), no Sindicato dos Produtores Rurais de Unaí.

Os auditores fiscais e o motorista deixaram filhos e faziam planos para o futuro na época em que foram assassinados.

Eratóstenes Gonsalves tinha 42 anos e era formado em engenharia mecânica. Trabalhava como auditor fiscal desde 1995. Era o 12º filho de uma família da zona rural de Belo Vale (MG) e deixou a mulher e uma filha, que tinha seis anos quando ele morreu.

João Batista Lages tinha 50 anos e começou a cursar direito aos 34 anos, por incentivo da família. Estava no cargo desde 1996. Deixou dois filhos e, quando foi morto, planejava a aposentadoria.

Nelson José da Silva tinha 52 anos e era formado em matemática e direito. Trabalhava como auditor fiscal desde 1999 e antes havia sido professor. Tinha dois filhos e planejava o segundo casamento.

O motorista Aílton de Oliveira tinha 51 anos e, além do trabalho no Ministério Público do Trabalho, era artesão e produzia maquetes para trabalhos escolares. Deixou dois filhos.

O 28 de janeiro foi declarado como o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo em homenagem a quatro servidores assassinados na emboscada no interior de Minas Gerais.

noticia por : UOL

16 de maio de 2025 - 9:19

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