17 de maio de 2025 - 4:27

Fim dos tremores? Nova tecnologia contra o Parkinson entrega resultados surpreendentes

Resumo da reportagem

  • Nova tecnologia com IA personaliza a estimulação cerebral profunda (DBS adaptativa) para otimizar o tratamento do Parkinson, ajustando estímulos elétricos em tempo real às necessidades de cada paciente.
  • A DBS adaptativa, ao contrário da DBS convencional de estimulação constante, demonstrou em estudos iniciais maior controle dos sintomas motores, redução de efeitos colaterais e menor necessidade de medicação.
  • Pacientes voluntários relataram melhora significativa na qualidade de vida com a DBS adaptativa, incluindo a quase eliminação de tremores e da sensação de “névoa mental” associada aos medicamentos.

Um novo tratamento com o uso da inteligência artificial (IA) oferece nova esperança no tratamento da Doença de Parkinson com resultados surpreendentes. A estimulação cerebral profunda adaptativa (ou DBS adaptativa) tem agora o apoio da IA para personalizar estímulos elétricos e, assim, aprimorar o tratamento às necessidades clínicas de cada paciente.

A DBS convencional não é nova e tem sido usada para tratar sintomas do mal de Parkinson desde os anos 1990. É considerada por especialistas como a mais eficiente terapia contra a patologia, ainda sem cura. O paciente recebe um implante cerebral semelhante a um marca-passo, que envia pulsos elétricos para regular a atividade anormalmente sincronizada dos neurônios — um dos principais problemas motores causados pela doença de Parkinson.

Na DBS tradicional o paciente recebe estimulação elétrica constante, em uma configuração fixa. A IA é usada para treinar algoritmos que interpretam sinais cerebrais em tempo real e ajustam a estimulação de forma personalizada. Entre os benefícios está a administração mais eficiente de medicamentos e controle dos seus conhecidos efeitos colaterais. Entre os efeitos colaterais mais comuns das medicações dopaminérgicas estão náusea, tontura, distúrbios do sono e, em alguns casos, comportamentos impulsivos.

“Para alguns pacientes, especialmente aqueles com sintomas mais graves, a DBS padrão, sempre na mesma configuração, não traz suficientes benefícios”, disse ao jornal Washington Post o professor de cirurgia neurológica na Universidade da Califórnia em San Francisco, Philip Starr. “As necessidades do cérebro mudam dependendo do seu nível de atividade, como quando estamos acordados ou dormindo e, principalmente, de acordo com o ciclo da medicação.”

Menos remédios e mais qualidade de vida

Há cerca de cinco anos o cientista político Keith Krehbiel e o técnico em mecânica industrial James McElroy se tornaram voluntários do tratamento inovador. Ambos descobriram a doença nos meados dos seus 40 anos e relataram os efeitos negativos da medicação prescrita contra a doença.

“Eu dormia mal demais. Todos os dias acordava com a sensação de estar com a cabeça na nuvem”, contou Krehbiel.  “Sabe quando você vê um viciado em anfetaminas? Era assim que eu estava tomando tanto remédio”, disse McElroy.

A terapia inovadora praticamente eliminou os sintomas motores mais debilitantes e melhorou consideravelmente a qualidade de vida dos dois. Também permitiu que reduzissem a ingestão dos medicamentos e diminuiu seus efeitos negativos correspondentes.

“Não é uma cura nem um milagre, mas definitivamente mudou tudo, me sinto melhor todos os dias. Os tremores desapareceram e não tenho mais aquela sensação de névoa mental de quando tomava tantos remédios”, disse Krehbiel.

Sincronização do cérebro

A doença de Parkinson é uma condição que afeta o sistema nervoso central, especialmente as do sistema motor, responsável pelos movimentos do corpo. Um dos sintomas mais conhecidos é o do tremor das mãos, já que há uma redução progressiva da produção de dopamina, molécula cerebral capaz de controlar os movimentos.

Os estudos iniciais mostraram que a DBS adaptativa proporciona maior controle dos sintomas motores, menores efeitos colaterais e menos energia elétrica empregada na comparação com a DBS convencional. Para alguns pacientes, a DBS adaptativa praticamente eliminou os sintomas motores mais debilitantes e melhorou consideravelmente a qualidade de vida, permitindo reduzir a ingestão de remédios.

Por exemplo, em 2024, Starr e sua equipe estudaram quatro participantes com Parkinson, incluindo McElroy, e descobriram que a DBS adaptativa melhorou os sintomas motores e a qualidade de vida na comparação com o tratamento convencional.

Eles personalizaram algoritmos para cada paciente, medindo seus ritmos cerebrais enquanto estavam com o medicamento para Parkinson usado para aumentar níveis de dopamina.

“Uma maneira de desenvolver esse tipo de algoritmo é primeiro realizar alguns estudos de sinais cerebrais em condições conhecidas”, disse Starr. “Então, você pode treinar um algoritmo de IA com esses dados conhecidos, para que o programa aprenda qual combinação de sinais cerebrais está associada aos diferentes estados.”

Assim como o coração, o cérebro possui ritmos ou padrões normais de atividade elétrica produzidos pelos neurônios. Condições clínicas como epilepsia e a esquizofrenia derivam de ritmos cerebrais anormais, semelhantes a arritmias cardíacas.

Na Doença de Parkinson, os neurônios ficam excessivamente sincronizados, uma condição chamada oscilopatia, que é uma alteração nos ritmos elétricos do cérebro, prejudicando a comunicação entre neurônios, que pode levar a sintomas como tremores e rigidez.

A doença de Parkinson é a segunda condição neurodegenerativa mais comum no mundo, afetando cerca de oito a dez milhões de pessoas, segundo estimativas internacionais.

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Esta reportagem compilou dados do estudo utilizando a ferramenta Google NotebookLM.

noticia por : Gazeta do Povo

17 de maio de 2025 - 4:27

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