12 de junho de 2025 - 15:30

Los Angeles: a tempestade perfeita criada por batidas de Trump contra imigrantes em cidade de estrangeiros


Manifestações em Los Angeles contra a política de imigração de Trump ofereceram ao governo dos EUA a plataforma ideal para demonstrar sua disposição de aumentar o número de deportações. Entenda. Soldados da Guarda Nacional americana em Los Angeles.
Getty Images via BBC
As tensões explodiram na região de Los Angeles, no Estado americano da Califórnia, no último fim de semana (7 e 8 de junho).
Uma semana de batidas contra a imigração gerou violentos protestos contra o governo Trump e o Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês).
A decisão do presidente Donald Trump, de enviar 700 fuzileiros navais e 4 mil soldados da Guarda Nacional para a região, em apoio à resposta federal aos distúrbios, abriu um capítulo polêmico na sua campanha de deportação em massa.
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Los Angeles, onde ocorreram as batidas e os protestos subsequentes, é uma cidade de tendência liberal, em um Estado controlado pelos democratas. E este local também ofereceu à Casa Branca um cenário público ideal para demonstrar seu progresso na retirada de imigrantes sem documentos, sob o argumento de estabelecer a lei e a ordem.
O governador democrata da Califórnia, Gavin Newsom, é um notório crítico do presidente. Ele escreveu no X (antigo Twitter) que o envio de tropas é uma “fantasia tresloucada de um presidente ditatorial”.
As batidas na segunda maior cidade dos Estados Unidos ocorrem sobre o pano de fundo de uma tentativa agressiva de aumentar os números de prisões e deportações, por um governo decepcionado com a velocidade atual do processo.
O ICE intensificou suas ações nas últimas semanas, frente às pressões para mostrar avanços em relação à emblemática política de imigração de Donald Trump.
A agência prendeu 2,2 mil pessoas no dia 4 de junho, segundo a rede de TV americana NBC News – um recorde, para um único dia.
A rede noticiou que centenas das pessoas presas estavam inscritas em um programa chamado Alternativa à Detenção, que permite a liberação e monitoramento de indivíduos que não são considerados uma ameaça imediata.
O vice-chefe de Gabinete da Casa Branca, Stephen Miller, é considerado o arquiteto intelectual da política de deportação. Ele afirmou repetidamente que a Casa Branca espera que o ICE possa atingir 3 mil prisões por dia.
Este número representa uma escalada em relação às cerca de 660 detenções diárias, verificadas durante os primeiros 100 dias de Trump no seu segundo mandato.
“O presidente Trump continuará buscando aumentar este número todos os dias”, declarou Miller à rede de TV Fox News, no final de maio.
O governo Trump também não atingiu seus objetivos em termos de deportações em massa.
Durante os 100 primeiros dias de governo, as deportações ficaram no mesmo nível registrado no último ano do governo Joe Biden – e, às vezes, até abaixo, segundo a comparação anual dos dados públicos disponíveis.
É difícil saber o índice exato das deportações diárias, já que a Casa Branca suspendeu a publicação dos números no início de 2020, durante o primeiro mandato de Donald Trump.
‘Violência de Estado’
A reação dos Estados
‘Um delito é um delito’
‘Violência de Estado’
“Não estou satisfeito com os números”, declarou aos repórteres na Casa Branca, no final de maio, o “czar da fronteira” do governo, Tom Homan. “Precisamos aumentar.”
Homan destacou que o governo Trump “aumentou muito as equipes” e “espera rápido crescimento do número de prisões”.
Diversos altos funcionários do ICE deixaram seus cargos nos últimos meses.
As demissões incluíram Kenneth Genalo, a principal autoridade da agência em questões de deportação.
Em fevereiro, o ICE também removeu dois importantes supervisores de deportações, além do diretor em exercício da agência, Caleb Vitello.
Na época do último remanejamento, a agência definiu a mudança como um realinhamento organizacional, que “ajudará o ICE a cumprir a ordem do presidente Trump e do povo americano, de prender e deportar estrangeiros ilegais, aumentando a segurança das comunidades americanas”.
O Departamento de Segurança Doméstica dos Estados Unidos afirmou, em comunicado à imprensa, que os imigrantes detidos nas recentes batidas em Los Angeles incluíram indivíduos condenados por crimes sexuais, roubos e acusações relativas a drogas, entre outros delitos.
Mas ativistas locais sobre questões de imigração e membros da comunidade afirmam que famílias foram divididas e que foram detidos imigrantes não violentos.
Durante uma manifestação na segunda-feira (9/6), a vereadora de Los Angeles Ysabel Jurado declarou que a batida ocorrida na sexta-feira (6/6) em um armazém no Distrito da Moda “não se deveu a questões de segurança pública. Foi violência de Estado, guiada pelo medo, destinada a silenciar, intimidar, desaparecer.”
A reação dos Estados
Pesquisas de opinião demonstram que a política de imigração de Donald Trump é popular junto à maior parte dos americanos. Mas alguns dos seus apoiadores expressaram preocupação com a tática empregada.
A senadora do Estado da Flórida Ileana Garcia, por exemplo, é uma das fundadoras do movimento Latinas por Trump. Ela escreveu no X que “não foi para isso que votamos”.
“Entendo a importância de deportar criminosos estrangeiros, mas o que estamos presenciando são medidas arbitrárias para caçar pessoas que estão cumprindo com suas audiências de imigração – muitas vezes, com justificado temor de perseguição”, destacou ela.
“Tudo isso, guiado pelo desejo de [Stephen] Miller de satisfazer um objetivo de deportação inventado por ele próprio.”
Autoridades federais vêm realizando batidas de imigração com mais frequência em todo o território americano, tanto em Estados democratas quanto republicanos. E alguns Estados controlados pelos republicanos auxiliaram as autoridades federais, como o Tennessee.
“A Califórnia estava disposta a resistir”, segundo John Acevedo, diretor da Faculdade de Direito Emory, que estuda a liberdade de expressão e os protestos nos Estados Unidos.
As imagens da violência e da resistência nas ruas de Los Angeles ofereceram a Trump a justificativa para o envio da Guarda Nacional.
“Para sua base, isso representa muito”, diz Acevedo. “Mostra que ele fala sério e permite que ele comprove que irá usar todos os meios necessários para executar suas normas [de imigração].”
‘Um delito é um delito’
Los Angeles se considera uma cidade-santuário, que limita sua cooperação com as autoridades federais de imigração. E os manifestantes reprovam o papel que, segundo eles, o governo escolheu para sua cidade.
“Este é o meu povo, sabe, estou lutando por nós”, afirma a mexicano-americana María Gutierrez. Ela protestou por dois dias no bairro de Paramount, em Los Angeles, onde ocorreram manifestações depois que os moradores locais identificaram agentes do ICE na região.
Houve pilhagem durante os distúrbios em Paramount e pelo menos um carro foi incendiado. As autoridades usaram balas de borracha e gás lacrimogênio.
Gutierrez afirma que há manifestantes em Los Angeles, incluindo na cidade próxima de Compton, que acreditam estarem protegendo a cidade contra as autoridades de imigração. Eles consideram as ameaças do governo Trump como um desafio a ser enfrentado.
Gutierrez acredita que os imigrantes sem documentos que cometerem crimes violentos devem ser procurados, mas não os que, segundo ela, trabalham muito e desejam uma vida melhor.
“Esta é a nossa cidade”, declarou ela. “Estamos furiosos, sabemos nos proteger e isso não irá nos assustar.”
Mas a comunidade não está coesa no seu apoio aos protestos que chamaram a atenção do país.
Juan, que mora perto de Paramount, chegou ilegalmente aos Estados Unidos e adquiriu a nacionalidade americana depois de algum tempo, mas apoia as ações do ICE.
“Os agentes do ICE têm um trabalho a fazer, como eu e você”, afirma Juan. Ele pediu à BBC que não divulgasse seu sobrenome, devido às operações federais na região.
Juan afirmou que passou anos trabalhando como operário. Mas, agora, ele é cidadão americano e tem quatro filhos que se formaram na faculdade.
“É difícil”, segundo ele. “Tenho familiares que também não têm documentos. Mas, na verdade, você não pode lutar se estiver aqui sem que devesse estar.”
“Um delito é um delito”, conclui Juan.
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Fonte: G1

12 de junho de 2025 - 15:30

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