17 de junho de 2025 - 19:52

Ian Fraser cria universo baiano onde personagem se perde para se encontrar

Com nome de gringo e avó americana, o baiano Ian Fraser diz que se sentia muito deslocado da baianidade, mas isso não transparece em sua escrita.

Em “Cartografia para Caminhos Incertos” conhecemos uma história passada na terra de Glauber Rocha e Jorge Amado —para o escritor, o livro só poderia ser escrito nesse cenário.

“Cartografia para Caminhos Incertos” é um livro sobre “se perder e se achar”, nas palavras de Fraser. Mané, o protagonista, é um morador da cidade fictícia de Redenção, um paraíso no interior baiano isolado do resto do mundo. Guardado por uma bruxa, o município está sempre em movimento. Um dia, Mané se perde da cidade e passa a buscar por ela como uma nova missão.

Sem mapa ou endereço final, o poeta Mané segue sempre adiante na busca da vida que um dia teve. Virgem em relação ao resto do mundo, o protagonista de Fraser tropeça em cidades únicas onde vai descobrindo novas geringonças, rotinas e formas de ser.

Como descreve o autor, “não há caminho certo, mas um bocado de caminho errado”. E é nesses caminhos que Mané encontra lugares como Semiose, que troca a concretude das palavras por descrições poéticas das coisas; Dionésia, a cidade onde todos são atores e intérpretes de si mesmos; e Lemniscata, a cidade palíndromo de padrões perfeitamente simétricos.

Ele também vê a guerra do coronel partido ao meio, um trânsito que vira cidade, a Torre do Oi, que é construída de cima para baixo a cada nova geração da humanidade, e uma estrada espelhada, onde um reflexo atrasado e um adiantado discutem.

“Eu fui pegando várias ideias que de alguma forma me atravessam ou me incomodam ou me motivam e criei cada cidade”, conta Fraser. Segundo ele, são esses cenários que constroem Mané. “No começo ele é uma tela em branco que vai sendo preenchida pelo contato com as pessoas e as cidades que encontra.”

Entre suas referências, Fraser cita “O Visconde Partido ao Meio” de Italo Calvino, Socorro Acioli e seu “A Cabeça do Santo”, e Gabriel García Márquez, autor de “Cem Anos de Solidão”. Mas seu maior referencial para o novo livro foi “Cândido, ou o Otimismo”, de Voltaire. A obra escrita no século 18 conta a história do jovem Cândido, que percorre um caminho de vários tropeços e desgraças após ser expulso do castelo onde morava.

Com toda essa caminhada, Redenção, o ponto de partida, vai se tornando uma lembrança para o personagem e o leitor. A beleza da vida, segundo o autor, se dá no processo de fazer a vida. “Eu não tinha um alvo, mas algo mais fluido, que é essa ideia de se descobrir”, afirma o autor.

Fraser conta que sabia que, quando quisesse parar de escrever, era Mané querendo parar de andar. Ele diz acreditar que o processo de escrita é algo que vai além do escritor e que o resultado não pertence apenas ao autor. “Gosto de acreditar que as ideias não são só nossas porque somos inspirados por tantas pessoas e coisas.”

Ele vê seu processo criativo como uma respiração. Ar de pulmão, como ele escreve no livro, “é vento que fez morada dentro de gente”.Fraser sente que esse ar vem carregado de ideias, que às vezes moram dentro dele por instantes, e em outras se instalam por ali até que ele conte a história.

Cria do financiamento coletivo, como se define, o autor publica o livro pela Intrínseca, seu segundo na editora depois de “A Vida e as Mortes de Severino Olho de Dendê”, romance finalista do prêmio Jabuti em 2023.

O autor se prepara para a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, onde participará de dois painéis da programação oficial –”Sarau: Autores leitores” no dia 17 de junho às 17h30 e “Escrever o Brasil” no dia 18 às 18h.

noticia por : UOL

17 de junho de 2025 - 19:52

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