6 de fevereiro de 2025 - 8:56

Rui Costa vira alvo de cobranças da nova cúpula do Congresso

Sob nova direção no Congresso, integrantes do centrão querem aproveitar as discussões sobre a reforma ministerial do governo Lula para desgastar a figura de um dos principais ministros, o chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT).

Ainda que seja remota a possibilidade de saída do ministro, a investida do centrão é por mudanças na relação dele com o Congresso.

Na Câmara, por exemplo, a avaliação é que Rui tinha canal de diálogo mais fluido com o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), que rompeu relações com o encarregado das articulações políticas, Alexandre Padilha (Relações Institucionais).

Segundo aliados, isso não se repetirá, porém, com o recém-eleito presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Também no Senado, há insatisfação com o trabalho de Rui desde o fim do ano passado, sobretudo com o impasse acerca do pagamento de emendas parlamentares.

Integrantes do centrão chegam a afirmar que o governo só vai conseguir resolver seus problemas de coordenação se o ministro deixar a Casa Civil. Um cardeal do grupo defendeu a ida de Rui para a Petrobras, sendo substituído por um nome como o do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

O titular da Fazenda é elogiado pela cúpula do Congresso, que aponta Rui como protagonista frequente de disputas políticas com Haddad. O centrão atribui ao ministro da Casa Civil tentativas de sabotagem ao chefe da equipe econômica.

A cobrança por uma saída de Rui é interpretada, na verdade, como uma forma de pressão do centrão para que Lula faça mudanças no relacionamento político do Congresso. O ministro da Casa Civil, afinal, é bem avaliado pelo presidente e considerado uma peça central para o funcionamento de seu governo.

Os atritos do centrão com ele começaram a ganhar corpo em meados de 2024 e se intensificaram no final do ano. Em agosto, em reunião na sede do STF (Supremo Tribunal Federal) que reuniu integrantes dos três Poderes para discutir as emendas, houve um momento de mal-estar entre Lira e Rui.

Segundo relatos, o ministro usou o termo “rachadinha” para descrever a partilha de emendas de bancada (modalidade em que parlamentares de um estado direcionam verba para suas regiões).

Ainda que a declaração não tenha abalado definitivamente a relação dos dois, Lira reagiu e afirmou de maneira contundente que rejeitava o uso da expressão para tratar do tema.

Por sua atuação na reunião, Rui ficou caracterizado como um opositor dos interesses do Congresso na execução orçamentária. Interlocutores do ministro afirmam que essa percepção é injusta e que o pagamento desses recursos não depende de ação da Casa Civil.

Em dezembro, houve novo atrito entre ele e o Congresso. Rui foi contra a liberação de emendas extras para parlamentares que votassem a favor do pacote de contenção de gastos, o que irritou a cúpula do Congresso.

No caso específico de Motta, aliados do presidente da Câmara apontam que o ministro da Casa Civil trabalhou para adiar o anúncio de apoio da bancada do PT à sua candidatura à presidência da Casa.

Ao longo da disputa por apoio no Congresso, Rui sinalizou simpatia por um pré-candidato de seu estado, a Bahia: ora o líder do PSD, Antonio Brito, ora o líder do União Brasil, Elmar Nascimento.

Em outro momento de tensão, líderes da Câmara dizem ter esperado horas por uma reunião com Rui no Palácio do Planalto que acabou não ocorrendo. Um deles disse que o ministro receberia um troco por isso.

Já os aliados do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), atribuem a Rui o que seria uma dobradinha do Palácio do Planalto com o ministro Flávio Dino, do STF, para travar o pagamento de emendas.

Esses mesmos interlocutores do presidente do Senado lembram o bom relacionamento de Rui com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD) —hoje apontado como um obstáculo de interesses dos senadores, por exemplo, em nomeações para a direção de agências reguladoras.

Em uma reunião, Alcolumbre e seu antecessor, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), chegaram a dizer a Lula que Silveira não mais os representava na Esplanada dos Ministérios.

De maneira mais abrangente, parlamentares se queixam ainda da concentração de decisões do governo na Casa Civil, o que tornaria mais lentas as ações oficiais, além do estilo duro de Rui no trato do dia a dia.

Procurada, a Casa Civil afirmou que Rui Costa não se manifestaria.

noticia por : UOL

LEIA MAIS