6 de fevereiro de 2025 - 18:55

Médicos de hospital em São Paulo usam furadeira doméstica em cirurgias

Médicos do Hospital Nossa Senhora do Pari, localizado no Canindé, região central de São Paulo, usam furadeiras domésticas para operar pacientes, de acordo com reportagem da TV Globo. As ferramentas seriam utilizadas em todos os procedimentos que exigem perfuração óssea.

O uso de furadeiras domésticas para cirurgia é proibido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde 2008.

Referência em atendimentos ortopédicos em São Paulo, a instituição é filantrópica e 100% credenciada pelo SUS (Sistema Único de Saúde). De acordo com a denúncia, o produto usado para higienização das furadeiras é um detergente desengordurante indicado para locais como pousadas, hotéis de médio porte, cozinhas e restaurantes.

A Folha pediu um posicionamento ao hospital. Por email, a instituição disse que discute o assunto com o departamento jurídico e em breve se manifestará publicamente.

Por meio de nota, a Secretaria Municipal da Saúde disse apenas que a fiscalização sanitária cabe ao governo estadual, que emite o alvará sanitário de funcionamento. No caso do Hospital Nossa Senhora do Pari, a licença sanitária está vigente até abril de 2025.

O órgão não respondeu se tomará alguma providência em relação ao caso. A instituição é uma prestadora de serviços ao município.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo afirma que o hospital possui total autonomia administrativa, operacional, assistencial e de recursos humanos, e está sob gestão do município de São Paulo. Segundo a pasta, O Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo realiza, nesta quinta-feira (6), uma inspeção no Hospital Nossa Senhora do Pari, com o objetivo de apurar e investigar possíveis irregularidades.

O uso de furadeiras domésticas para cirurgia é proibido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde 2008. O uso em procedimentos cirúrgicos incorre em infração sanitária porque representa grave risco à saúde da população.

De acordo com a nota técnica 40, de 2017, “a furadeira doméstica não apresenta controle da rotação; pode aspirar partículas de osso para o interior. A ferramenta não pode ser esterilizada. A lubrificação a óleo pode contaminar o campo cirúrgico. Além disso, ela não está protegida do risco de descarga elétrica”.

Hospital do Pari deve acompanhar pacientes operados, diz diretor de associação de dispositivos médicos

Para Paulo Henrique Fraccaro, diretor da ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos), o hospital precisa levantar a ficha dos pacientes operados com a furadeira doméstica e acompanhá-los. Outra medida imediata é a suspensão das próximas cirurgias programadas até que os equipamentos projetados para essa finalidade sejam adquiridos.

“Os instrumentos cirúrgicos têm uma anatomia, um peso e um design para facilitar horas de cirurgia. O hospital tem que ser processado e interditado. Essa furadeira tem uma vibração natural que para o serviço doméstico não atrapalha. Numa cirurgia, o furo tem que ser preciso. Não pode ter nada a mais do que a broca está programada. A furadeira doméstica não permite isso. Segundo, a furadeira doméstica não é preparada para ser esterilizada. Ela tem aquelas aletas de ventilação onde pode entrar o sangue durante a cirurgia e não tem mais como remover”, afirma Fraccaro.

“Se você colocar em uma autoclave, em uma temperatura alta, ela será danificada. E tem mais um detalhe: durante o processo de furação, ela pode liberar partículas internas da sua parte elétrica, dos cabos que tem lá dentro, e entrar dentro da cavidade cirúrgica. Se eu tiver esse conceito, dentro de um hospital, de que ela é mais barata do que a furadeira indicada, vou comprar tudo na Leroy Merlin. Eu não preciso comprar mais nada com especialidade para o procedimento cirúrgico”

noticia por : UOL

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