Para Crismerly Osorio Anderson, cada dólar conta, especialmente na hora de comprar ovos: dado o aumento exorbitante do preço, a venda por unidade tornou-se algo comum nas lojas de Nova York, onde este produto básico se tornou um luxo.
O ressurgimento da epidemia de gripe aviária nos Estados Unidos dizimou mais de 26 milhões de galinhas poedeiras desde o início do ano e os preços dispararam.
Além de sua lata de refrigerante, Anderson, desempregada de 24 anos, comprou três ovos brancos em um saco plástico, por US$ 2,90 (R$ 17,16).
“É mais barato comprá-los assim. Uma caixa de 12 (ovos) é muito cara”, confessou um pouco envergonhada a moradora do bairro operário do Bronx.
Na megalópole, o preço médio de uma dúzia de ovos atingiu US$ 8,47 (R$ 50,11), segundo um estudo publicado na quinta-feira (27). Mas há supermercados onde custam US$ 15 (R$ 88,75).
É um golpe para a classe trabalhadora, já atingida pela inflação. Radhames Rodríguez decidiu vender os ovos por unidade quando os primeiros clientes começaram a dizer-lhe que “já não podiam pagar” uma caixa inteira.
“Estão muito caros. Estou neste negócio há 40 anos e nunca vi o preço dos ovos tão alto”, diz o dono do Pamela’s Green Deli, a loja do bairro onde Anderson faz suas compras, sob alto-falantes com música latina.
Em seu balcão: cigarros, guloseimas, medicamentos… e agora ovos.
“Os ovos são um produto que todo mundo precisa para alimentar sua família. Especialmente neste bairro pobre. Compreendo o quão difícil é para eles pagar este preço”, diz Rodríguez, que usa um boné da associação das Bodegas (lojas de bairro) dos Estados Unidos, da qual é presidente.
Folha Mercado
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REVENDA E DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Em Nova York, a maior e mais rica cidade dos Estados Unidos onde mais de um quarto da população vive abaixo da linha da pobreza, a crise dos ovos faz com que as pessoas tenham que se virar.
Nas redes sociais abundam os vídeos de bancas improvisadas montadas com mesas de jardim onde se revendem ovos.
Na noite de sexta-feira (28) no bairro de Brooklyn, várias empresas distribuíram gratuitamente uma caixa por pessoa, o que gerou filas intermináveis.
“O preço dos ovos está nas alturas e em um momento como este, é nosso dever e nossa responsabilidade tornar este produto acessível”, disse o chefe do açougue Prince Abou Butchery em Queens, um dos comércios que distribuiu ovos grátis, a uma emissora de televisão local.
Além da epidemia de gripe aviária, os preços atingiram um “máximo histórico” devido ao fato de a cadeia de abastecimento americana basear-se em grande medida em “um único produtor” em larga escala, segundo o Hunter College Centre for the Study of Food de Nova York.
Em todo os Estados Unidos, os preços duplicaram em um ano (+96%), segundo estatísticas oficiais. A oposição democrata pede uma investigação parlamentar.
O governo diz estar em conversações com vários países para importar ovos e enfrentar a escassez.
Rodríguez espera que os preços dos ovos comecem a baixar para deixar de vendê-los por unidade. Embora não seja o único produto de primeira necessidade que sobe.
“O negócio dos ovos é uma loucura. Mas os preços de outros produtos sobem a cada dia”, assegura.
De fato, o abacate em pedaços, envolto em plástico, também encontrou seu espaço em seu balcão, ao lado dos ovos.
Outra cliente, Shquanma Lyttleton, deve escolher entre ambos, e opta pela porção de abacate. “Às vezes só te restam US$ 3 (para comer)”, afirma a moradora de 24 anos.
noticia por : UOL