21 de abril de 2025 - 19:29

Bem-humorado, torcedor do San Lorenzo e primeiro papa latino-americano: conheça a trajetória de Francisco


Nascido na Argentina, em 1936, Jorge Mario Bergoglio chegou a trabalhar como professor de literatura, até decidir ser padre. Francisco foi eleito papa com a missão de resgatar a confiança na Igreja Católica. Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, morreu aos 88 anos. O pontífice ficou conhecido pelo seu perfil carismático e pelas reformas que promoveu na Igreja Católica. Ao longo da carreira, antes de ser papa, o argentino também estudou química e trabalhou como professor.
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Nascido em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, Francisco foi o primeiro papa latino-americano da história. Ele também foi o primeiro pontífice da era moderna a assumir o papado após a renúncia de seu antecessor e, ainda, o primeiro jesuíta no posto.
À frente da Igreja Católica por quase 12 anos, Francisco foi o papa número 266. Em 13 de março de 2013, durante o segundo dia do conclave para eleger o substituto de Bento XVI, Bergoglio foi escolhido como o novo líder – inclusive contra sua própria vontade, segundo ele mesmo admitiu.
Mas a carreira no catolicismo foi uma escolha própria do argentino. Formado em Ciências Químicas e professor de Literatura, o religioso, filho de imigrantes italianos, acabou se dedicando aos estudos eclesiásticos.
O perfil jovial e descontraído do religioso fez com que ele se tornasse uma opção popular entre os colegas cardeais e uma escolha ideal para a Igreja, que vivia um de seus momentos mais delicados.
Nesta reportagem você vai ver:
Religioso argentino
Carreira antes de ser papa
Como Jorge virou Francisco
Reformas na Igreja Católica
Saúde e morte
1. Religioso argentino
Retrato da juventude de Jorge Mario Bergoglio foi divulgado por sua família na Argentina
Reuters/Cortesia da família Bergoglio
Francisco nasceu em Buenos Aires, em 1936. Seus pais, ambos italianos, chegaram à Argentina em 1929, junto a uma leva de imigrantes europeus em busca de oportunidades de trabalho na América.
Arcebispo da capital argentina, ele era considerado um homem tímido e de poucas palavras, mas com grande prestígio entre seus seguidores. O religioso era admirado por sua total disponibilidade e seu estilo de vida sem ostentação.
O argentino também era reconhecido por seus dotes intelectuais, por ser considerado dialogante e moderado, além de ter paixões pelo tango e pelo time de futebol San Lorenzo.
Antes de seguir carreira religiosa, Bergoglio formou-se técnico químico. Depois, ingressou em um seminário no bairro de Villa Devoto.
2. Carreira antes de ser papa
O então cardeal Jorge Mario Bergoglio posa para foto segurando uma flâmula do seu time
Club Atlético San Lorenzo de Almagro/AP
Em março de 1958, Bergoglio entrou no noviciado da Companhia de Jesus, congregação religiosa dos jesuítas, fundada no século XVI.
Em 1963, o religioso estudou humanidades no Chile e voltou à Argentina no ano seguinte para ser professor de literatura e psicologia no Colégio Imaculada Conceição de Santa Fé.
Entre 1967 e 1970, estudou teologia e acabou sendo ordenado sacerdote no dia 13 de dezembro de 1969. Em menos de quatro anos, chegou a liderar a congregação jesuíta local, um cargo que exerceu de 1973 a 1979.
Foi reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel entre 1980 e 1986 e, depois de completar sua tese de doutorado na Alemanha, serviu como confessor e diretor espiritual em Córdoba. Em 1992, Bergoglio foi nomeado bispo titular de Auca e auxiliar de Buenos Aires.
Em 1997, ele se tornou arcebispo titular de Buenos Aires. Em 2001, foi nomeado cardeal e primaz da Argentina pelo papa João Paulo II. Entre 2005 e 2011, ocupou a presidência da Conferência Episcopal do país durante dois períodos.
3. Como Jorge virou Francisco
Papa Francisco acena para fiéis
AP
Francisco foi eleito papa no dia 13 de março de 2013. Ele substituiu Bento XVI, que resolveu renunciar ao cargo ao alegar falta de ânimo e vigor para governar a Igreja Católica.
À época, a Igreja Católica passava por uma grave crise moral e de confiança, principalmente por causa dos escândalos de pedofilia envolvendo padres ao redor do mundo.
Francisco chegou com a missão de reverter a queda na popularidade da Igreja e conquistar novos fiéis, principalmente os mais jovens. Ele acabou sendo eleito papa no segundo dia de conclave por ser visto como um religioso de perfil jovial e descontraído.
Em seu primeiro encontro com a imprensa internacional, o papa disse que escolheu o nome “Francisco” por influência do cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes.
“Quando os votos chegaram aos dois terços, começaram a aplaudir, porque o papa tinha sido eleito. E ele [Dom Cláudio Hummes] me abraçou, me beijou e disse: ‘Não se esqueça dos pobres’”, lembrou o pontífice, em 2013.
“Aquela palavra entrou na minha cabeça: os pobres. Pensei em Francisco de Assis. Depois pensei nas guerras, enquanto a apuração prosseguia. E Francisco é o homem da paz. E assim o nome saiu do meu coração: Francisco de Assis. Como eu queria uma Igreja pobre, para os pobres.”
Em latim, o lema do papado de Francisco foi “Miserando atque eligendo” — “Olhou-o com misericórdia e o escolheu”, em português.
4. Reformas na Igreja Católica
Em 2017, papa já havia criticado a tradução do trecho ‘não nos induzais à tentação’
AFP
As reformas da Igreja Católica também foram outra marca de Francisco. Ele iniciou um processo de reformulação das estruturas da Cúria, que é o governo do Vaticano, com atenção especial para a parte econômica e financeira.
Francisco parecia impulsionado por uma missão urgente: incentivar uma Igreja, desertada em alguns países, a acompanhar com misericórdia os católicos em situações irregulares.
“Podemos falar de uma revolução, nos passos do Concílio Vaticano II (1962-1965), que abriu a Igreja ao mundo moderno”, disse à AFP o especialista em Vaticano Marco Politi, em 2016.
Politi classifica Francisco como “um grande reformador” que tentou fazer “com que a Igreja abandonasse sua obsessão histórica em tabus sexuais”.
O argentino foi eleito, entre outros motivos, para continuar a reestruturação econômica da Santa Sé iniciada sob Bento XVI, com medidas como o fechamento de contas suspeitas no banco do Vaticano, por muito tempo acusado de lavagem de dinheiro.
“Em termos de doutrina, ele [papa Francisco] não mudou nada. Neste sentido, nunca fez parte dos progressistas”, afirmou Politi. Segundo o especialista, o papa não tinha a intenção de ordenar padres casados ou mulheres e se mostrou horrorizado com o aborto. Ele gostaria que seu trabalho reformista tivesse “continuidade”.
5. Posturas progressistas
Funcionário cobre cartaz que acusa o papa Francisco de atacar católicos conservadores
REUTERS/Max Rossi
O papa tinha um forte consenso entre os fiéis e, também, entre alguns agnósticos e não-crentes. Mas ele não agradava aos ultraconservadores, que tentavam desacreditá-lo. Como papa, Francisco enfrentou assuntos delicados para a igreja, como os direitos LGBTQIA+ e o sexismo.
Ele foi o primeiro papa a ter convidado um transexual ao Vaticano e se recusou a julgar os homossexuais. Para Francisco, a igreja era um “hospital de campanha, não um posto alfandegário”, que separa os bons e maus cristãos, disse o especialista Marco Politi.
Ele foi elogiado por avanços, como ao permitir bênçãos de padres a casais do mesmo sexo, mas acabou sendo alvo de polêmicas ao dizer que existia “bichice demais” nos seminários, em 2024. À época, Francisco pediu desculpas pelas afirmações.
O pontífice também ficou conhecido por colocar mulheres em cargos mais altos no Vaticano e permitir que elas votassem no Sínodo dos Bispos — a reunião em que bispos debatem e decidem questões ideológicas e regimentos internos.
Por outro lado, ele foi criticado por não adotar as medidas necessárias para autorizar sacerdotes do sexo feminino na igreja, que é uma reivindicação histórica de parte das mulheres católicas.
O papa defendia que apenas cristãos do sexo masculino poderiam ser ordenados para o sacerdócio, usando como base a premissa da Igreja Católica de que Jesus escolheu homens como apóstolos.
Francisco também fez vários discursos políticos durante sermões. Ele não poupou críticas a líderes de países em guerra, como o russo Vladimir Putin e o israelense Benjamin Netanyahu. O papa também criticou a União Europeia e os Estados Unidos ao defender imigrantes e refugiados.
6. Saúde e morte
Papa Francisco durante celebração
Yara Nardi/Reuters
Francisco apresentou um quadro de bronquite no início de fevereiro. Nos dias seguintes, o papa começou a ter dificuldades para discursar durante audiências religiosas. Ele admitiu publicamente que estava com dificuldades respiratórias e chegou a pedir para um auxiliar fazer a leitura do sermão.
No dia 14 de fevereiro, o papa foi internado no hospital Agostino Gemelli para fazer exames e tratar a bronquite. Mesmo hospitalizado, ele continuou participando de algumas atividades religiosas. No domingo (16), ele pediu desculpas por faltar à oração semanal com fiéis na Praça de São Pedro.
Já na segunda-feira (17), o Vaticano informou que Francisco estava com uma infecção polimicrobiana — causada por um ou mais microrganismos, como bactérias, vírus ou fungos. O quadro de saúde do papa foi descrito como “complexo”.
No dia seguinte, em um novo boletim, o Vaticano anunciou que o pontífice estava com uma pneumonia bilateral. A infecção é mais grave do que uma pneumonia comum, já que pode prejudicar a respiração e a circulação de oxigênio pelo organismo de uma forma geral.
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Fonte: G1

21 de abril de 2025 - 19:29

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