Indiferentes às convenções internacionais sobre direitos humanos, as aulas de pilates continuam. Falo com propriedade porque alguém se lembrou de que eu deveria fortalecer o core e resolveu me infligir uma sessão de pilates.

Trata-se de torcer e esticar partes do corpo que não deveriam ser torcidas nem esticadas. Somos obrigados a adotar posições e a efetuar movimentos que, à primeira vista, são um pouco desagradáveis, mas que com as indicações adicionais se tornam realmente muito desagradáveis.

Movido por ressentimento e desejo de vingança, decidi investigar quem foi o inventor do pilates. Descobri que o inventor de pilates foi Zé Pilates. Joseph Pilates, nascido em Mönchengladbach, em 1883.

Pergunto-me se a prática esportiva teria o mesmo prestígio se tivesse sido inventada por Vítor Meireles. Se alguém diria, com admiração: “Nossa, como você está enxuta! Dá para ver que anda no meireles!” E se alguém responderia: “Obrigada, querida, mas agora não posso falar, tenho aula de meireles.”

Deixo um alerta para o seguinte: os professores de pilates vão dizer que pilates não é apenas exercício físico. Também requer concentração. Vão perguntar: “Está concentrado nos movimentos? Não façam isso. Concentrem-se antes em contrair todos os esfíncteres que o corpo tiver.”

O nosso corpo vai ser torcido, vai ser dobrado, vai ser apertado. Vai ser tratado como uma bisnaga de creme dental. Mantenham a tampa bem apertada. Para evitar uma desgraça, eu me concentrei nos esfíncteres. O core não fortaleci muito, mas os esfíncteres são pedra.

Não me surpreenderia se o próximo filme do 007 incluísse um diálogo como:

“Nos encontramos de novo, Sr. Bond. E algo me diz que você vai me dar as informações de que preciso.”

“Não me faça rir, Blofeld. Você tem aí uma máquina de tortura sofisticada? Fui treinado para resistir.”

“Não, não. Tenho aqui um PT chamado Márcio.”

E entra o Márcio:

“James, é o seguinte, nós vamos dar uma melhorada na sua flexibilidade. Primeiro você vai deitar de barriga para cima. Isso. Agora faz uma tesourinha no ar com as pernas. Vinte vezes. Contrai o glúteo. Faz a retroversão pélvica para mim, James. Respira. Dez, nove, oito…”

“Ok, tragam um mapa”, interrompe Bond. “Eu digo exatamente onde a marinha da Sua Majestade escondeu os submarinos.”

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