9 de maio de 2025 - 17:44

Papa Leão XIV e Donald Trump: o que os aproxima — e o que os separa

Concordância em questões como o repúdio ao aborto e à ideologia de gênero. Discordância em relação às políticas de imigração e meio ambiente. Estes são os principais pontos de convergência e discórdia entre Robert Francis Prevost, agora papa Leão XIV, e Donald Trump.

Por enquanto, o momento é de felicitações. Trump escreveu em sua rede Truth Social: “Parabéns ao cardeal Robert Francis Prevost, que acaba de ser nomeado papa. É uma grande honra saber que ele é o primeiro papa americano. Que emoção e que grande honra para o nosso país. Aguardo ansiosamente o encontro com o papa Leão XIV. Será um momento muito significativo!”. 

O secretário de Estado Marco Rubio, católico, estendeu seus parabéns. “Os Estados Unidos esperam aprofundar nosso relacionamento duradouro com a Santa Sé com o primeiro pontífice americano.” 

Pontos em comum 

Nascido em Chicago, nos Estados Unidos, Leão XIV tem pontos em comum com a visão de Trump. Ambos são contra o aborto e ideologia de gênero.

Leão XIV repudia o crime contra a vida durante a gestação e defende que a vida começa na concepção. “Não podemos construir uma sociedade justa se descartamos os mais fracos — seja a criança no útero ou o idoso em sua fragilidade — pois ambos são dádivas de Deus”, já afirmou Leão XIV.

Falando a bispos em um encontro de 2012, Prevost criticou a mídia por nutrir “simpatia” ao “estilo de vida homossexual” e “famílias alternativas compostas por parceiros do mesmo sexo e seus filhos adotivos”, em “desacordo com o evangelho”. Em outra ocasião, afirmou que a “promoção da ideologia de gênero é confusa, porque busca criar gêneros que não existem.”

Pontos divergentes 

As críticas de Leão XIV a Trump são concentradas principalmente na questão migratória, cortes em programas sociais e políticas ambientais, o que o aproxima do falecido Papa Francisco. 

O papa Leão XIV questiona as políticas ambientais de Trump desde o mandato anterior. Em 2017, ele repostou no X o comentário de um jornal romano que dizia estar preocupado com o fato de os EUA não cumprirem as metas de emissão de carbono em seu governo.

As críticas contra as políticas migratórias são mais frequentes. No mês passado, quando ainda era cardeal, Prevost repostou no X um artigo que criticava a visita do presidente de El Salvador, Nayib Bukele, a Trump, quando ambos comemoraram a deportação de imigrantes. “Sua consciência não está perturbada?” escreveu o autor do post, Rocco Palmo. “Como você pode ficar em silêncio?”

Em fevereiro, o sacerdote repostou um artigo de outro veículo cristão que se opunha ao vice-presidente dos EUA: “J. D. Vance está errado: Jesus não nos pede para classificar nosso amor pelos outros”. Vance tinha declarado em entrevista que o amor cristão deve seguir uma hierarquia, começando pela família para depois amar o mundo. 

Outras críticas são mais antigas. No primeiro mandato do presidente Trump, em 2018, Leão XIV repostou um texto que dizia: “Não há nada remotamente cristão, americano ou moralmente defensável em uma política que tira crianças de seus pais e as confina em gaiolas. Isso está sendo feito em nosso nome e a vergonha recai sobre todos nós”. 

No ano anterior, repostou outras mensagens que se opunham ao governo Trump. Em uma delas, chama a proibição de refugiados de “um momento sombrio na história dos EUA”, em que o mundo está observando “enquanto abandonamos nosso compromisso com os valores americanos”.

Em outra republicação, o texto diz: “Afirmando que a linha de ‘homens maus’ de Trump alimenta ‘racismo e nativismo’, bispos da Califórnia enviam críticas preventivas à revogação do DACA (sigla do programa de proteção temporária para imigrantes que foram trazidos aos Estados Unidos quando eram crianças e que não têm estatuto migratório legal).

Qual América? 

Apesar de ser natural de Chicago, os anos de trabalho missionário no Peru, a escolha de se naturalizar peruano e o discurso inédito em espanhol na sua apresentação apontam que o novo pontífice está mais alinhado com a América Latina e com o seu antecessor, Francisco, do que com os Estados Unidos, afirma Roberto Uebel, professor de relações internacionais da ESPM.

No meio do seu primeiro discurso, o papa Leão XIV trocou o italiano para o espanhol. É a primeira vez que um papa fala outro idioma nesta ocasião. Ele também agradeceu o seu episcopado em Chiclayo, no Peru, onde passou boa parte de sua carreira eclesiástica.

“O papa Leão XIV não faz referência aos Estados Unidos durante seu discurso na Praça de São Pedro, mas ao Peru, onde é naturalizado. Me parece muito mais latino do que americano, e, portanto, deve dar atenção a causas como pobreza, desigualdade, conflitos sociais”, diz Uebel.

A Casa Branca não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre as críticas anteriores de Leão ao presidente e ao vice-presidente, de acordo com o jornal USA Today.

noticia por : Gazeta do Povo

9 de maio de 2025 - 17:44

LEIA MAIS